Farejar o eu
 
E não é que ela me tirou a paz! Na verdade, ela sempre me conduz por caminhos impensáveis. As vezes me percebo como um cachorro sem coleira, que encontrou algo para farejar e de repente, não consegue mais voltar, pois deseja saber onde a trilha irá terminar... mesmo que seu dono grite: "volte", ele se desconecta da realidade e busca seguir seu instinto.
 
Este é o poder da mente. Sua capacidade de nos absorver em pensamentos inúteis é gigantesca. Um pensamento puxa outro e outro e quando menos esperamos, somos como um cão a farejar sem destino. Simplesmente perdemos o senso de "presença de espírito", presença do eu, e nos deixamos levar pela insólita capacidade de sofrer pelo pensamento.

Não há uma receita para controlar a mente. Quem dera fosse possível. Mas há uma gama de exercícios que podemos realizar para focarmos no nosso "eu", para mantermos nossa presença no presente da vida, sem deixar que a mente, esse negócio complicado que ninguém sabe onde fica direito, a não ser que está dentro do nosso cérebro, tome conta dos nossos sentimentos.

Rezar é um desses exercícios e é magnífico. Não falo aqui de religião. Neste assunto, cada um deve seguir sua mente... afinal, saciar-se espiritualmente é coisa particular. Mas rezar é algo divino. A oração feita com prazer não é aquela que busca encontrar Deus-fora, mas sim, Deus-dentro. Ela não procura elementos externos, mas provoca em nós um conhecimento dos limites, do mesmo modo que ressalta nossas qualidades. A oração é a melhor forma de se fazer presença. Volta-se para dentro... para a alma... na oração não é o pensamento que me rouba, como o cheiro rouba o cachorro de seu dono... Na oração sou eu quem roubo o pensamento e o faço só meu. Coloco-o numa coleira e digo: "venha aqui... não tente fugir agora".

Controlar o pensamento é fazer-se presença: presença em si mesmo e presença no mundo. Deixar-se controlar pelo pensamento é perder-se: perder-se em si mesmo e ser consumido pelo mundo.

Não vale a pena sofrer por antecipação. E o que faz o pensamento descontrolado? Leva-nos a situações inexistentes, fantasiosas. Tira-nos do presente, leva-nos a um futuro incerto.

Quero controlar mais o meu pensar. Quero ser dono dele e não ser escravo. Quero ser presença em mim mesmo. Quero saber-me como sou e quem sou. Difícil? Creio que sim... mas vale a pena tentar, afinal, o cachorro é o melhor amigo do homem.
Fábio G Costa
Enviado por Fábio G Costa em 12/08/2015
Reeditado em 12/08/2015
Código do texto: T5343426
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