Muladeiro (capítulo XXVIII)
____ Dr Irineo, tem um homem aí fora querendo lhe falar, disse o nome inteirinho do senhor, pediu urgência e tempo para a conversa - anunciou o escrevente que dava plantão na delegacia, no período noturno - mando ele entrar?
Irineo sinalizou com "sim", enquanto assinava mais um boletim de ocorrência.
____ Com licença, Irineo! - pediu Diego - Lembra-se de mim?
Irineo levantou a cabeça, ergueu os braços indicando forte alegria e, imediatamente, saiu da desconfortável cadeira em direção àquele jovem senhor, que, outrora, fora seu amigo de escola.
Um abraço demorado e fortes tapas nas costas foram a saudação entre ambos. Gastaram bons minutos em conversa fiada, risadas avulsas e lembranças de uma remota época de suas vidas. Não falaram sobre intimidades, pois o assunto não gerava curiosidades; entretanto ambos sabiam que o casamento havia sido uma opção e não uma decisão. A idade e a reputação de bons partidos eram os ingredientes necessários para a realização do enlace matrimonial, que desfez a imagem de solteirões encalhados.
____ Diego, deixemos de lado o lero-lero e falemos sobre serviço. Como eu o conheço, e soube da guinada que sua vida profissional deu,
acredito que você esteja aqui, para colaborar no caso Teodoro, acertei?
Diego Maxuell Crispim formou-se em Direito Criminal, e era referência profissional, quando o assunto envolvia assassinato com suspeita em corrupção. Antes de procurar Irineo , o perito teve acesso ao dossiê de Teodoro, e ao rascunhar sua pequena tese, observou que corrupto e corruptor protagonizavam o enredo do crime. Sabia que coisas difíceis de identificar, aconteceram na vida daquele sitiante, porque os envolvidos se calaram, e encontrar colaboradores para os depoimentos demandaria conhecer pessoas dispostas a fazer o bem.