A correia do Juju
Desjejum feito, o Juju Domiciano descia todas as manhãs dos altos do São Francisco até a pracinha da estação, então já convertida em rodoviária, pra tomar sol e fazer a hora do almoço. À tarde, costumava repetir o percurso.
Juju, pai de numerosa o morigerada prole, já fizera sua parte: labutara na fazenda provendo o sustento para a meninada que, crescida, e aplicada, ia encontrado seus caminhos venturosos na indústria, no ensino, e até na política. Vir morar na cidade, não tinha o bucolismo do campo, mas tinha as oportunidades, e os confortos urbanos inerentes.
Um deles, era o conjunto de bancos em torno da praça da estação, que bem servia ao merecido descanso dos que já haviam pelejado com as ferramentas, as plantações, o gado, ou, para os da cidade, as fábricas, entre as quais se destacava a gigantesca companhia de tecidos.
Traço invariável no roteiro de Juju, por sinal melhor observador do que proseador era o seu traje: uma camisa geralmente axadrezada, a calça de brim claro, e os sapatos surrados e bem treinados para cumprir seu diuturno percurso.
O que me chamava atenção contudo, naquela imponente figura, era o cinto de couro, que a gente chamava mais era de correia. Juju nunca passava a correia por dentro das alcinhas da calça. Sobraçava a barriga, que já se pronunciava, atava, e pronto estava. Nem a calça caía, nem o seu mundo ruía.
Nunca cheguei a saber o real significado daquela disposição. Tempo, por certo, ou mesmo ajuda, por parte da zelosa esposa, não havia de faltar para que se cumprisse o ritual de enfiar alça por a alça aquela tira de couro. E, esteticamente, por certo, ficaria mais estiloso o bom Juju. Mas neca de se valer desses trunfos.
Cheguei a especular - comigo mesmo - que o cinto, assim mais solto, serviria para as emergências, ou delas alguma reminiscência, como, por exemplo, poder disciplinar a prole - se viesse a precisar. Mas como falar sobre isso pra moços e moças já maduros, donos de seus próprios narizes e, com a lembrança do pai, tão felizes?