Gasta Diva
Quinze contos de réis. É o que davam João e Januária para o mancebo que topasse desposar a filha Geralda, dona de 40 e poucos anos, solteirona, e fervorosa devota das graças de Santo Antônio.
Para facilitar as eventuais aproximações, Geralda, que vinha da fazenda passar os fins de semana na Velha Serrana, debruçava-se no parapeito do alpendre de sua casa, sita no largo de São José, vigiando e orando com fé. Nas horas vagas, pois é. Pois morigerada, ainda assistia os encanecidos pais nos afazeres rotineiros da casa, da pia à vassoura, do chão ao fogão.
O ponto era bom para a troca de olhares, alguma prosa e outros vagares. A colheita, no entanto, vinha se tornando cada vez mais rarefeita. E Geralda, mesmo sem saber, sem se dar conta, era a imagem cortada de Joan Sutherland, a stupenda, dos eventos operísticos, em pleno auge. Verdade que lhe faltava a voz da diva. Mas de corpo e queixo, em somilhança era captiva.
Pena que não tenha surgido um duque de Mântua, ou mesmo um Don Giovani para conduzir nas mais agudas notas aquele enlevo de paixão.
E quinze contos eram ainda um dinheirão.