A Estrela

Havia um homem muito nervoso sentado na mesa de um restaurante. Ele estava usando terno e calças pretas, sapatos pretos e velhos, porém, elegantes. Sua barba não estava muito bem feita e ele estava sentado em uma cadeira, sozinho em uma mesa de família, por onde ficou já por algumas horas, desde que o restaurante abriu, mexendo seu pé, demonstrando ansiedade.

O cheiro do restaurante não lhe era muito familiar, não cozinhava algo novo além de arroz e feijão há alguns anos. O cheiro abria o seu apetite, apesar do restaurante não ser dos melhores. E então, um homem de casaco preto com capuz chega no restaurante.

Quando seus problemas pessoais se agravaram por conta da morte da sua mulher, ele começou a tentar esquecer de tudo que envolvia ela e a se distrair para se esquecer de seus problemas. O homem ainda tinha alguns bens dela em casa, mas começou a vender a maioria e se desfazer dos outros.

Ele era dono de uma imaginação admirável e era uma ótima pessoa também, pelo menos costumava ser. Costumava ser um roteirista de uma história em quadrinhos em um prédio antigo, em São Paulo. Ele não tinha uma vida tão ruim assim, apesar de tudo. Trabalhava com o que sonhara a vida toda, mas mesmo assim não gostava de seu emprego, e muito menos de sua vida.

Foi muito difícil para o homem aceitar a morte de sua mulher. Ela era a estrela que o guiava, e agora, ele estava terminado. Ele ia ao trabalho para conseguir seu dinheiro apenas, suas histórias e seu roteiro original, nada mais importava.

Um dia, quando esteve pensando nela, pensou em uma história única, em que o personagem principal era uma reflexão própria de sua pessoa, e a personagem buscava ao transcorrer da saga por uma estrela, com a ajuda de um mapa.

Doía muito para ele escrever, e ninguém sabia direito de onde ele tirou essa ideia, mas pouco importava para o público. O fato é que ele e sua editora até conseguiram uma relativa fama, mas essa não poderia ter vindo na pior hora. Com o dinheiro das vendas e dos anúncios na internet ele começou a criar muitas dívidas. Ele estava onde queria, onde sempre quis, mas no momento não queria estar em lugar nenhum.

No restaurante, ele continuava esperando. Eis que um garoto aparece:

- Ei moço, você é o escritor do Alma Estelar, não é?

- Sim, sou eu, Jorge Inverno - ele não acreditava que alguém reconheceu ele. Isso era demais pra ele:

- Como me reconheceu, garoto?

- Ah, você foi em um evento que teve no mês passado, não lembra?

- É verdade, eu fui mesmo. Que coisa, não?

- Hm… Você pode me dar um autógrafo? Assina meu gibi, por favor?

- Tudo bem garoto, qual seu nome?

- Carlos - Jorge autografa seu gibi

- Pronto, garoto. Meu primeiro autógrafo - Jorge faz um sorriso discreto, que parece meio sombrio.

- Você… você pode me contar o final da história? - Jorge olha para o menino por um tempo e diz:

- O que você acha? - O menino olha com receio:

- Não sei, mas ele encontra a estrela, não é? - Jorge demora, mas responde:

Todos nós encontramos nossas estrelas um dia, menino.

- Mas, ele conseguiu? - Jorge responde com um tom natural:

- Mas eu não disse que ela vai brilhar pra sempre.

No outro dia, o garoto dá uma rápida olhada no jornal de seu pai: Em uma página de notícias locais, em uma pequena coluna, em um pequeno texto. Havia um homem morto na mesa de um restaurante.

Gabriel Connor
Enviado por Gabriel Connor em 20/03/2015
Reeditado em 17/04/2015
Código do texto: T5176477
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