Retiro, o que eu disse
Era sonho de muito rapaz, meninote até, participar do Retiro Espiritual, cuja sessão coincidia em geral com alguma festa religiosa, ou pra compensar alguma paganice enganosa...semana santa, carnaval, et coetara e tal.
Além dos masculinos, acho que havia também os femininos, mas a lembrança aí é mais tênue e não consigo firmar ou afirmar com lucidez iguar. Geralmente havia um padre, ou mais, por trás da iniciativa, tecendo o elo entre o divino e o terreno. Mas a figura do clérigo logo se dissolvia, e entravam os militantes religiosos em cena.
Faziam meditações, relatavam alguma experiência, davam um palpite, ou entravam mudos e calados saíam, mas era um ambiente cobiçado. Ao cabo, tirava-se uma fotografia de todos juntos à volta do padre, em preto e branco e se levava para casa, com as graças alcançadas.
Levava-se também de volta o colchão, e essa era a parte mais chata trafegar com aquele trombolho desajeitado do ginásio pela cidade afora. Mas o que era feito na ida, fazia-se na volta agora, porém, há porém, com o espírito mais leve e se dava assim o desconto para o colchão. Na volta relatavam-se as experiências, quase nunca as indesejadas flatulências, ah como era bonita a prédica daquele padre tal, como se destroncara um dedo numa batalha de futebol campal, como era duro mas gratificante viver a pão e água, e poder retomar logo - revigorado de corpo e alma - a rotina do trabalho, da sociedade, da casa.
Num dado tempo criou-se um retiro infanto-juvenil, remedando-se os mais veteranos, pois no meio deles, aparentemente só um moço ainda muito jovem, mas já cheio de fé, conseguia participar, o Josanfrei, nome poético de um pio e piativo filho do porteiro do Ginásio. E a moçada respondeu com entusiasmo àquela chamada. Sem a gravidade dos mais velhos, mas com que garrulice, a ponto de ter que ser refreada pelo mestre-bedel, o Sô Zé, que tinha a experiência do comando de um time de futebol infanto-juvenil do mais afamado clube da Velha Serrana. Uns diziam até que Sô Zé tinha as suas preferências, recatadas por vezes, mais explícitas outras. Mas diante da vontade, sem freio fica até o frade no meio.