Renitentes repetentes...
O sinal mais óbvio deles eram as calças desbotadas e pega-franga: eram os repetentes, que se haviam descarrilhado, perdido o ano letivo, e agora tinham que recomeçar tudo de novo, além da chatice de aguentar os chatos dos novatos, sem poder olhá-los com aquele mesmo ar de superioridade dos alunos da segunda-série.
Na minha turma de primeira série ginasial, numa turma de 40 e tantos, davam em torno de meia-dúzia: o Gilberto, o Zé Galdino, o Tóde, que era Hélio, além de Boa-Ventura, o João Rachid, o Nazareno Bolão, o Tarcísio Babatu - apaixonado pelos livros sobre as aventuras de Tarzan, de Edgar Rice Burroughs - o Galileu, que era Zé Antônio, e um ou outro mais que a memória piscante já mais não pesca neste instante.
Gente boa, contudo, reduzida a toa, à humildade dos bancos escolares e das calças de uniforme desbotadas, e encurtadas lhes cumpria agora não fazer feio. E, sempre que possível, descarregar toda a sua amargura nos noviços mais vulneráveis. Aí, os baixinhos iam aprender o que era sobreviver num campo minado de ressentimentos. Mas era do jogo, e não se salvava nem pelo rogo àquele brutal desafogo.
E não era só moral o assédio, fosse pequeno, grande ou médio. Mas era preciso resistir, ser homem. Ou não? A única vantagem que se vislumbrava em também cair na repetência era poder repassar, com juros, toda aquela ignomínia, aquele abuso. Mas era infinitamente melhor poder usar e se jactar das pega-frangas na segunda série. Sério.