Vício inebriante
Mais que o tabaco para saciar o vício dos fumantes, valiam as marcas de cigarros para os colecionadores. Era uma loucura sair pela rua, sempre cabisbaixo, alheio até aos joelhos das meninas, e dar de olho com aquela carteira de cigarros vazia que a alma lhe enchia.
Sobretudo se fosse marca mais rara, de cigarro não vendido em qualquer biboca. Os pais, em geral, nunca aprovavam aquela besteira de ficar juntando papel velho, quiçá fumado por gente já doente, evitando contudo dizer tuberculose.
Mas por fim cansavam-se de objetar, pois pouco ou nada ia adiantar.
Alguns meninos herdavam, "achavam", ou surrupiavam suas coleções de outras já previamente estabelecidas, com tanto trabalho construídas, e por fim deixadas de lado, esquecidas, amarelecidas.
E como não se haviam formado os cartéis no setor tabageiro, ou nossas empresas nacionais não haviam ainda sido absorvidas pelas multinacionais, as marcas eram então mais variadas - e algumas mais regionalizadas. Daí, quando surgia a oportunidade de um passeio, uma viagem distante, o sonho era galopante: enriquecer a coleção.
Havia também as trocas, as aquisições. Quanta guloseima se deixou de
comprar tudo por um pedaço de papel amarfanhado, mas tão cobiçado.
Você já viu um Liberty Ovaes? Já botou na sua algibeira, com todo carinho e maneira um Dezoito do Forte? Um Caporal Lavado? Hollywood fita verde?
Ah, você é um ignorante de marca.