Visitas de vovó Inhana
Visitas eram um acontecimento. E, vizinhos de lote, logo flechávamos pra casa de vovó Inhana para saciar nossa curiosidade. E, com sorte, a fome de uma fatia de bolo, de queijo curado, ou dum biscoito frito.
A parentela era mais frequente. Gente que vinha dalguma cidadezinha ou povoado próximo, por razões que variavam dum tratamento de dentes a tocar uma demanda no fórum, ou passeio mesmo. E a hospitalidade era sempre festiva, sobretudo no primeiro dia. Conversa não faltava, assunto sempre abundava.
E havia até a ordem de precedência, que parecia se estabelecer
naturalmente, porém rígida feito ela só. Criança era para ouvir, e calada. Responder, só se perguntada. Entre as tias havia também infantilizações forçadas, aceitas umas, outras disputadas. Tal a ânsia do falar.
Tio Antônio, o varão da casa, sempre lacônico com os domésticos, expandia-se com os de fora. Não sem os eventuais protestos de alguma irmã solteirona - todas o eram - que achava seus comentários despropositados. Mas num aspecto, ao menos, tinham que ceder, ainda que contrafeitas. Era quando ele convidava as hóspedes, principalmente, a banharem os pés. E logo a bacia na sala se introduzia, e o ritual se seguia. Muitos empoeirados descaminhos. E a água
confortava aqueles pezinhos.
Até que enfim chegava a hora do café, criançada de orelha em pé.