Beu desiste do Bota
O Zé Maria daquele domingo não era o homem da colher e da argamassa. Estava num garbo, que a recordação não passa. Parecia até, ter vindo da missa, ele que chegara tão cheio de graça.
E o papo com papai, rodeado de nós, sem nós, rolava feito deslizantes trenós. O Zé estava sozinho, como lhe soía nas deslides domingueiras. Mas durante a semana inteira reunia a perrada de filhos homens, e se punha a briquitar. Sua moçada, descansada, devia estar se preparando prum futebol, e tanto luar ao sol.
Corria, a boca pequena, e serena, que uns tempos atrás, Zé havia ganho na loteria do Estado, meio bilhete premiado, e endinheirado, pra gandaia se mandado. Passou lá - uns diziam que no Pará, outros em BH - uns meses de puro deleite. Até que se cansou, ou o tutu esgotou, e a vida, junto a família querida, e que valida, voltou. E a colher de pedreiro retomou. Nesse assunto, contudo, ninguém tocou.
O papo, contudo, em dominical veludo, continuou. Até que no futebol entrou. E aí, nos valemos da ocasião para dizer nossas predileções esportivas, desde que não passássemos de uma palavra. E era tudo time do Rio naquela épica época. Papai iniciou com seu Vasco, que era também do caçula Caxi, eu disse Flu e o mano Beu falou Botafogo.
Zé Maria, enquanto tirava seu olho de vidro para lhe dar uma lustrada com o lenço, bradou também, quase uníssono:
- Eu também sou Botafogo!
Diante daquela insólita companhia, Beu retrocedeu. Não chegou a se render ao Mengo, mas, sem dengo, deixou seu Bota, que tinha Garrincha, Didi, Quarenta, Nilton Santos, e outros tantos...