Pica pra mim, pica pra mim...

...e era assim, que as três irmãs, já encanecidas, amulatadas e amuletadas, Sá Ia, Sá Lô e Sá Iana, a mim se dirigiam, de forma afetuosa, quando me encontravam pela rua, e pela mão de tia Rita, a passear a esmo, naquele Brumado de seis décadas atrás, de tanta poeira passada e que os anos não trazem mais.

É uma lembrança bem remota, mas que vai remontando, à medida que a poeira do tempo, e teclando, vou espanando. Tia Rita era ainda uma sacudida quarentona, enquanto as três irmãs andavam bem acima dos sessenta. Eu me contentava com meus três ou quatro anos. E à luz do sol poderia parecer ter mais, por ser meio alemoado e por ter de firmar os olhos para por sentido nos eventuais passantes. Que eram poucos, mas que tinham nas Sás o seu momento marcante, inda que fugaz...

Elas queriam tão-somente que eu piscasse para elas e isso já lhes bastava. Estimulavam-me a flertar e o resto que fosse o Cupido ensinar.

Estou que fossem aposentadas e nos passeios pelas tardes brumadenses encontrassem o pão sovado de cada dia, que alimenta a alma a riviria. Quando não a enfastia.

Não tínhamos papo. Era só o cruzar na rua, as caçoadas das irmãs e o zelo orgulhoso de tia Rita em brandir o sobrinho, banhado e penteadinho, que ainda não conseguia articular a palavra Araraquara, mas de lambida cara.

E eu nem sempre picava, mas tampouco deixava a Sá Ia, Sá Lô, e Sá Iana deixava brava.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 17/12/2014
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