Amor de padre

(Publico um conto de Charliza Collina, transcrito da Usina de Letras. Charliza dispensa apresentação, é mais que ficção)

Não busco absolvição. É só uma confissão, sem contrição. Sinto ainda em meu rosto o roçar da barba por fazer de Padre Jesuíno, como ouço também o mais doce roçar de sua batina em meus pés naquela festa junina que começamos por uma inocente quadrilha e fomos acabar com um beijo que até hoje me faz corar e recusar, ainda que ansiando loucamente pelo quentão que me ofereciam.

Se no vinho está a verdade, no quentão é que ela se despe e se insinua, se interpenetra e se o não faz, quem dela não se saciou aqui jaz.

Bem que ele me disse, trêmulo, pressago, quiçá, num pós-missa brevíssimo enquanto o esperavam casais, senhoras e senhores para os cumprimentos, o chá, os bolinhos: se tanto nos atraimos, tanta tentação nos impele, temos que nos provar diante dela. Com ela seguir para testar nossa resistência, nossa fé inquebrantável.

Mas não fomos. Ele preferiu seguir com o acólito. O Taquinho

Charliza Collina
Enviado por Paulo Miranda em 02/12/2014
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