"O Balanço de Vida ou "As Mãos nos Bolsos"--Série Contos Curtos.
Roberto abriu a porta da casa para Jean e o abraçou em despedida. Era o último filho que deixava o lar, casado e bem encaminhado na vida. Aliviado por ter cumprido bem sua função de pai para com os três filhos, e recostado na chaise - longue do gabinete, selecionou algumas músicas clássicas, entre elas as Polonaises de Chopin, outras de Beethoven e Mozart, e resolveu fazer um balanço de vida.
Casou muito moço e violentamente apaixonado. Os dois foram felizes nos primeiros momentos de suas vidas. Cedo, porém, descobriu na mulher uma certa frieza ao se relacionar com ele, com os filhos, com os amigos e ficou desgostoso, mas acabou se acostumando a este cotidiano de Nara, e haviam os filhos para criar, educar e orientar no mundo. Jogou se ,então, no seu árido trabalho dos negócios ,onde a matemática e o cálculo gritavam mais alto e foi tremendamente bem sucedido . Fez fortuna, comprou casas e apartamentos em diversos estados e no exterior. Com Nara procurou conservar um laço de amizade, manter as aparências, e a satisfazia sexualmente sempre que ela o desejava mas , no geral e ao viajar ,saía com belas mulheres. O relacionamento entre os dois foi durante os anos esfriando devido ao inexplicável gelo de Nara. As outras mulheres se babavam por ele, sabia.
Serviu uma taça de champagne para si , ao se sentir muito solitário neste dia pois não havia mais como preencher o vazio amoroso em que se encontrava, principalmente hoje ,depois da saída de Jean .Roberto se sentiu nu, desnudado de afetos,solitário, mas recuperou a lucidez e então lembrou.
É, Roberto se lembrou dela :uma mulher muito amorosa e afetiva que conhecia, uma mulher que sempre que via, automaticamente, metia as mãos nos bolsos de suas bermudas ou calças para evitar de a agarrar, mesmo sem falar, e de a abraçar e de a pegar para ele.
Terminado o balanço de vida, Roberto tirou as mãos dos bolsos e saiu de casa sorridente...