O CHURRASCO
Minha amiga foi convidada para um aniversário numa fazenda e foi cedinho, com seu marido, para ajudar nos preparativos.
-Éden, guardei o fígado do boi, que matamos para o churrasco, para você.
-Muito obrigada. Nós gostamos muito. Vou deixá-lo na geladeira.
A festa foi muito animada e a bebida correu solta.
Lá pelas tantas...
-Dadinho, vamos embora que já é tarde.
-Que tarde, que nada, Éden! Você não sabe de nada! Cala a boca!
A mulher não estranhou, pois sabe que seu esposo muda do vinho para a água, quando excede na bebida. Mas, preocupada, pois ele mal sabe dirigir o seu fusquinha, ela insistiu:
-Meu bem, vamos para casa. O farol do carro não está bom e hoje é lua minguante.
-Ah... Vá descascar batatas e me deixa em paz!
Daí a pouco, outra tentativa; desta vez, segurando uma bacia com o fígado que tinha ganhado.
-Amor, o nosso filho vai dirigir para você, está bom?
-Não! De jeito nenhum! Fufite não vai tocar o meu carro! Eu toco sozinho!
Com muito custo, os convidados entraram no veículo e partiram rumo à cidade, no meio da escuridão.
-Ai! O que foi isso, Dadinho?
-Sei lá! Não estou enxergando nada! Deve ser mais um murundu de cupim, no meio do caminho!
-Ih... Danou-se, meu bem! O farol bom quebrou! E agora?
-Agora, vamos assim mesmo, mulher.
Vira daqui, freia dali, sacoleja acolá, o fígado foi pulando na bacia e espirrando sangue para todo lado. O vidro ficou todo respingado.
Ao chegarem em casa, os parentes estavam na calçada, aflitos com a demora deles.
-O que foi isso, minha irmã?! Pelo amor de Deus, que sangue é esse?!
-Não foi nada, mana; estou bem.
-Como está bem, se a porta do carro está amassada, o farol quebrado e você toda ensangüentada?
Até então, o motorista, que não tinha dado fé da situação, começou a chorar:
-O que é que eu fiz com você, querida? Minha Nossa! Você está muito machucada? Fufite! Ô Fufite! Leva a sua mãe ao hospital depressa, meu filho! Corre, rapaz, senão ela vai morrer aqui! Eu sou um homem acabado nesta vida!