Geralda sem esponsais
Tudo o que seu Nicolau e dona Januária agora queriam era casar a filha Geralda. Constava que ofereciam 15 contos a um moço que se dispusesse a levá-la ao altar. E onde mais pudessem ambos a vida desfrutar.
Difícil determinar a idade da moça objeto de tantos cuidados, promessas e esperanças. Talvez beirasse os quarenta. Mas nesse detalhe não se entrava, senão a coisa mais se entravava.
Eram gente dos lados lá do Morro Agudo, um quase vilarejo da Velha Serrana. Findas as forças dos velhos para as duras lides no campo, haviam-se mudado para a sede do município, para a casa assoalhada, estilo colonial, que mantinham na praça de São José. Ali também se ampliavam as chances de melhor exposição de Geralda.
Missa, festa religiosa, procissão e até quermesse, Geralda não perdia, mas sua frequência mais visível era ao alpendre da casa, debruçada sobre a balaustrada, notadamente ao cair da tarde, obrigações já cumpridas, banho tomado e quiçá, algum rouge ou perfume que feminilizasse aqueles traços demasiado retos para uma balzaquiana que se prezasse.
Passantes, muitos houve. Parantes, um ou outro para os cumprimentos, um dedinho de prosa e, da sala, à espreita, os pais se reanimavam, à espera de uma sequência, de uma aproximação.
Quinze contos era uma boa bolada. O preço de uma casinha boa. E apesar de tanto moço bom, necessitado até de uma boa união ali na cidade, o tempo ia passando e marcas deixando.
Foi quando Januária deu de desconfiar: a filha, moça boa e pia, não era uma brastemp, dessas de primeira, mas era, além de Geralda, uma geladeira.