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“Quando ler esta carta eu já terei ido. Já serei voado.”

Uma sombra de desejos paira sob as pontes que costuram a superfície do planeta extrahumano, intraterrestre – Extra! Extra! E unem todas as minas-bombas do campo cerrado que explode em cada alvéolo de cada alma cortada ao meio pela luz da mesma cor incolor-viscosa (luz viaduto, pôr-do-sol e meia-noite, cigarro aceso no muquifo do olho que passa dirigindo e desdenha o que vê, jardim-de-inverno-do-atacama-ou-de-cuiabá, luz de pólvora em pleno uso, em plenitude de som brusco que estoura em milhonésimos de segundos algum ouvido-alvo que escuta e traduz no coração em código morse “fudeu...”, luz de vela de joelhos juramentados no altar). Cai um avião em alguma parte de algum plano piloto de fuga em queda lenta e a câmera registra, o cartório recebe e o banco esquenta – agora já pode acender-subir; que o negócio doeu o lucro que tinha que doar. A primavera desabrocha das raízes urbanas e joga pólen tóxico nas flores que nada observam, apenas querem ser flor. “ah... como eu queria que estivéssemos juntos” é uma frase que se perde em tantas outras tardes, em meio a tantos filmes, livros e poesias radiofônicas, em meio a tantas ondas de amor amortizantes que atingem os arco-e-flexas dos anjos que rumam as setas das bolsas-de-valores. Tudo segue o movimento do astro-mor; tudo segue; tudo cego, gira sempre para o mesmo lado e olha o mesmo ponto que costura a linha do horizonte. E vaga, Extra! Extravagante...

Quando leu aquela carta, sabia... “já teria ido. Já seria voado.”

Então pensou uma frase qualquer vinda do fundo dos pulmões ou da vagina, e suspirou “ah... como eu queria que estivéssemos juntos”, e sentiu todas as ânsias do mundo latejando em suas pálpebras, e todas as pedras que erosivam paradas não rolarem dos seus olhos, e a gravidade de tudo puxar as energias ambíguas para o centro do telejornal.

E decidiu deixar-se ir. E desceu das folhas. E ventou.