MINGAU DE AVEIA

Mingau de Aveia

Sempre adorei mingau de aveia. Desde criança. Aveia, leite e açúcar misturados em um canecão de alumínio, geralmente antes de dormir. No fogão, minha mãe preparava o mingau antes de irmos para a cama. Como meu pai trabalhava de turno a maior parte do tempo, era normal que apenas minha mãe, minha irmã menor e eu desfrutássemos daquela gostosura.

Estávamos no início dos anos 70 e a situação econômica não era lá grande coisa. O Brasil estava no milagre econômico, mas poucos usufruíam desta “bênção”! Então, nem sempre tínhamos mingau de aveia. Faltavam sempre dois ingredientes, os principais. Porém, quando não era de aveia, minha mãe fazia um preparado especial: mingau de trigo. Trigo, açúcar e água, também misturados em um canecão de alumínio, geralmente antes de o sono chegar.

Obviamente que o mingau de aveia era mais gostoso. Mas o carinho materno é e será um ingrediente especial.

Contudo, algo me deixava encucado. Como um pacote de aveia, de meio quilo, durava mais que um quilo de trigo? Como, se era menos e o número de pessoas que se alimentavam era o mesmo? Com pouco conhecimento bíblico àquela época, eu brincava com minha mãe dizendo que se Jesus multiplicava pães e peixes, ela multiplicava o mingau de aveia.

Era sempre assim. Nós três à mesa saboreando o alimento. Cada um com a sua caneca predileta. Inclusive a da minha mãe não tinha asa, estava quebrada. Prá quê, dizia ela: canecas não precisam de asa porque canecas não voam. Depois da refeição, cada um levava sua caneca e sua colher até a pia, onde ela lavava de todos nós.

Em uma noite de inverno, e enquanto o vento roncava entre as telhas de barro, estávamos ali: minha mãe, minha irmã menor e eu. Não era caçula, mas era mimado. Quando então alguém bateu à porta. Minha mãe deixou a sua caneca sobre a mesa e foi atender ao chamado, levando com ela a sua colher. Em um estalo de curiosidade e de “fominheza”, na tentativa de filar um pouco da porção da minha mãe, corri até onde estava a caneca dela e eis a surpresa: a canecada esta vazia. Não só vazia como completamente limpa. Limpinha, sem nenhum resquício de mingau. Estava do mesmo jeito que havia sido retirada do guarda-louça. Então eu descobri ali o milagre da multiplicação do mingau de aveia.

Jonas de Antino

Jonas De Antino
Enviado por Jonas De Antino em 16/07/2014
Reeditado em 25/11/2019
Código do texto: T4883873
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