DONA MIGUELINA NÃO ASSISTIRÁ MAIS A COPA PELA GLOBO (2006)

Escrito durante a copa de 2006

Dona Miguelina não mais assistirá aos jogos da copa pela Globo. Ela não quer mais sofrer assistindo ao time de seu filho, conhecido como Ronaldinho Gaúcho, pela rede globo. Poderia haver muitos motivos que a fizessem tomar esta atitude, porém foi um só.

Não foi porque a seleção, mesmo ganhando, não vem jogando tudo o que se esperava. Não foi, também, porque fizeram comentários vários criticando o time e principalmente seu filho, que não vem mostrando tudo o que sabe. Não foi por causa do Falcão, comentarista, o qual gosta muito. Nem por causa do Casagrande e suas opiniões, e muito menos por causa do Arnaldo César Coelho, que tem uma boa visão de jogo e só opina sobre a arbitragem e seus efeitos, nada mais. A causa foi uma só: o narrador Galvão Bueno.

Ela nunca teve nada contra a pessoa do narrador, apesar de Galvão Bueno ter brigado ao vivo com Pelé durante uma partida, certa vez. Também não foi porque ele discutia diversas vezes com o Arnaldo, tentando impor sua opinião, ainda que por - muitas -vezes equivocada. Nada disso a fazia trocar de canal, afinal Galvão Bueno já havia tecido os melhores comentários e elogios ao jogador - vale lembrar a narração dele para o primeiro gol de Ronaldinho com a camisa da seleção: ao invés de falar gol ou golaço de uma vez, ficou repetindo à exaustão “olha o que ele fez, olha o que ele fez, olha o que ele fez...” -, a sua decisão de não mais assistir aos jogos do Brasil pela globo aconteceu no dia do jogo da seleção brasileira contra a seleção de Gana.

Dona Miguelina, como sempre, recebia diversas pessoas para assistir a partida. Ela gosta e prefere assim. Amigos, parentes, todos se reúnem para fazer aquela corrente positiva tanto para o time como torcer, obviamente, que Ronaldinho Gaúcho faça uma boa partida, digna do melhor jogador do mundo escolhido pela Fifa, já por três vezes.

Nesse dia, Dona Miguelina atrasou-se. Ela estava em casa, porém com tantos afazeres, tantas pessoas para receber, organizar comes e bebes, acabou por não conseguir fazer o tradicional chimarrão, que como boa gaúcha nunca deixou faltar durante os jogos.

A correria a impediu e o jogo ia iniciar. Mais do que ligeiro dirigiu-se até a cozinha para rapidamente aprontar o mate. Ela iria perder alguns poucos minutos, no máximo, mas o chimarrão estaria lá junto da galera. Enquanto os jogadores cantavam o hino nacional, ela fazia uma oração pedindo para que o Brasil ganhasse, e que, principalmente, seu filho se saísse melhor nessa do que nas partidas anteriores, para calar a boca dos críticos. E nada melhor para silenciar esse “ruído” do que um gol. Um gol de seu filho, agora, resolveria. Seria tudo no momento. O auge.

Inicia o jogo, passa-se poucos minutos, chimarrão pronto, na sala ouvem-se os gritos de gol, aumentam o volume e Dona Miguelina ouve Galvão nem tão Bueno dizer com todas as letras: gol de “RRRRRRRRonaldiiiinho”. Ela não se conteve, com tudo nas mãos corre para a sala enquanto todos ainda vibram. No seu coração de mãe, deu graças, pois era tudo que ela queria e seu filho precisava. Ao entrar na sala, empolgada, tropeça no tapete, cai, corpo inteiro, derrubando tudo no chão.

Antes mesmo que alguém da sala pudesse fazer algum movimento para ajudá-la a se levantar ela já estava de pé vibrando com o gol. Ahh, uuh, uhu, ooouuuhhh!! Pela correria, pela vibração e gritos de empolgação, os amigos e parentes percebem o que ela havia imaginado. E pela reação do pessoal da sala, aquelas expressões felizes que se desfizeram um pouco mais rápido do que merecia a situação, Dona Miguelina percebeu que havia algo “errado”. Mas o quê? Por quê? Porque não se tratava de Ronaldinho Gaúcho e sim, de Ronaldo, o fenômeno. Ronaldo, o outro.

Lembrou, tardiamente, que Galvão Bueno ao contrário de todo e qualquer narrador do país, continuava chamando Ronaldo, o fenômeno, de Ronaldinho. Não se sabe por quê. Ninguém pergunta. Medo! Quer dizer, mesmo que alguém tenha perguntado, este não trabalha mais na globo. Ou pode ser que, por outro lado, Galvão simplesmente pense: “Eu vi esse guri crescer” ou ainda “essa é minha marca registrada, com licença, eu posso!!”. Mas convenhamos, esteja o Ronaldo gordo ou “forte” como dizem alguns, somada a idade de 29 anos ou até pelo nome RONALDO estampado claramente às costas da sua camiseta, o diminutivo “inho” não lhe serve mais. Ora, mas para que facilitar se dá para complicar? Seja como for, Dona Miguelina não assistirá mais a copa pela globo.

Em tempo: até mesmo porque a seleção foi para casa mais cedo!

Danilo Hax
Enviado por Danilo Hax em 13/07/2014
Reeditado em 17/07/2014
Código do texto: T4880544
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