Insônia
Você está apenas com insônia, “um bocejar da largura dos astros” que parece remetê-lo a outro país. Mas você fica. Permanece aqui, em frente à tela, desnudando conceitos com seus dedos e encobrindo outros. Estimados preconceitos.
Um oscilar doentio entre a treva regeneradora e o alerta inútil. Transito incompleto entre dois mundos. A tela reflete a face cansada, de propósitos exaustos e cambaleantes.
Melhor dormir. Um sono sem ficções nem sonhos. Apenas um limpo e decente sono. Anônimo, sem rebuliços nem megalomanias. Um sono que esvazie a lixeira das retinas exaustas, de um dia que resiste em terminar, enquanto o outro dia, pôe o rosto na janela, dissimulado.
Um sono sem qualidades. Sem personalidade. Comum. Que o resgate de si mesmo e do repouso abortado. Enquanto chega o novo dia, que mais tarde, colocará as garras á mostra. Um dia bestial, na vala comum dos anos e dias. Armazenados na despretensão de álbum de fotos, das velhas polaróides da vida. Fotos em preto e branco que nos parecem ladrilhos vivos e sujos.
Manchados pelo hálito morno do tempo. Olha decepcionado, o dia que insiste em não acabar. Nem deixa o novo penetrar a sala das retinas, com sua mensagem vaga.Cochila um pouco, até perceber algo novo.
Ei-lo.Chegou o dia, molhado de chuva. Aguarda, na sala vazia de insônia. O rugir da vida, lá fora, também espera a sua vez.