Muladeiro (capítulo XXVI)
No colo de Israel, cabecinha escondida no ombro do amigo, soluços dolorosos, muita resistência e quase uma fuga foram demonstrados por Antonio, após seus tios paternos assinarem a guarda definitiva do sobrinho. Tudo lhe fora explicado, assim como seria sua nova vida com a família do pai. Nada encantou ou atraiu à pequena criança. Todo o trajeto até a casa do tio Rubens, com quem ficaria, foi feito no silêncio, olhar pela janela em sinal de adeus e, por vezes, no cochilo.
Ele que gostava da vida campestre. Era o que ele conhecia desde sempre. O contato com os animais e o mato lhe davam segurança, prazer e euforia. Vidrava os olhos quando o pai amansava as mulas, ordenhava as vacas, pregava as ferraduras nos cavalos, sempre usando sete pregos em cada pata. Havia um cavalo que recebera ferraduras de prata. Seu pai era absolutamente supersticioso, e cria que a sorte seria redobrada, com o adorno em metal precioso. Por esta razão, Teodoro era o único que montava em Feiticeiro. O equino não recebia cuidados especiais, mas tinha a devoção e o carinho de todos. Seus pelos pretos, e brilhosos denotavam a boa raça do animal.
Por uma única vez, seu pai o levou na garupa, para cavalgar pelas redondezas, com a segurança de que ninguém os veria. Feiticeiro era calmo, obedecia aos comandos de Téo, enquanto Antonio abria os bracinhos, sentindo o vento bater-lhe na face, e os cabelos se embaraçando com o galope.
Todo esse cenário, estaria prestes a não mais existir. Seus olhos marejavam, porque a lucidez de sua vida, com a família do tio, invadia seus pensamentos, causando-lhe angústia.