Muladeiro (capítulo XXV)
O bar de Vicente tornou-se o ponto de encontro para a conversa sobre o carrão que visitou a casa do senhor Teodoro. Muito burburinho, suspeitas, sondagens e até apostas fizeram com que os frequentadores se encontrassem, com pontualidade, no boteco.
O proprietário a todos mirava, dava um palpite aqui, outro acolá, mas nunca concluía, tampouco abafava o bate boca; sua féria aumentava e essa era a melhor parte.
"Sorte para uns, desgraça para outros", pensava, enquanto servia a cachaça barata e, por vezes, reaproveitada dos copos, cujos restos desciam para a boca de um pequeno funil de alumínio, que ficava diariamente encaixado na garrafa de vidro transparente, deixada do lado de dentro do balcão, sob a pia de mármore branco encardido e trincado.
Israel e Minduim só iam ao bar, quando percebiam que os bêbados e especuladores não estariam naquele lugar. Fugiam das perguntas, dissimulavam respostas, bebiam uma cerveja ordinária e, por vezes, fingiam estar embriagados para que suas falas saíssem desconexas.
A tática funcionava para muitos; contudo, Vicente sabia que alguma coisa estava mal esclarecida."Tem caroço nesse angu", resmungava baixinho, enquanto fechava a caixa registradora, sem dar as costas à freguesia.
____ Diz pra nóis, Vicentão, o que tu acha disso tudo? Num se fala nôtra coisa na vila toda! Parece até que vão desinterrá o defunto, pra módi contá o que aconteceu! - perguntou um bêbado, que se escorava no balcão do bar, tendo numa das mãos um copo com Cinzano.
Ao escutar a questão, Vicente não se manifestou. Deu com ombros em sinal de dúvida, porém queria mesmo opinar, falar o que suspeitava e sabia o que sabia; o velho Téo nunca foi flor que se cheirasse, e muito segredo havia sido confiado, durante as longas e espaçadas bebedeiras do fazendeiro.