**Meu Dia de Chorar**
Hoje é o meu dia... Inteiro e somente meu.
Meu dia de chorar, de extravasar tudo aquilo que faz a minha mente fervilhar, meu peito doer e os meus sonhos se desvanecerem.
Não quero ninguém me dando tapinhas nas costas, falando baboseiras para me confortar ou aquela expressão horrível de piedade.
Quero o silêncio como companhia... Quero a dor a me apunhalar... Quero as lágrimas para me limpar.
Qual pessoa dentre nós que, nunca sentiu pena de si mesma, arrependimento por tudo aquilo que fez ou deixou de fazer, pelos sonhos perdidos, pelos pecados cometidos, até a contrição total.
Qual dentre nós, nunca perdeu um grande amor?
Recordo de muitos amigos, namoradas, parentes, familiares, que fizeram parte da minha vida e mudaram, se afastaram ou simplesmente terminaram-se as amizades.
Quantas pessoas passaram por nossas vidas, deixando marcas de insofismável beleza, nos engrandecendo, nos ensinando, e no auge do amor, as vimos definharem e retornarem para os braços do criador.
Então veio a dor da perda e a dor da saudade.
A dor é um sentimento sufocante, como se a sua particularidade fosse reabrir as feridas mais profundas, remexer no cérebro em busca daqueles momentos que tentamos esquecer e repentinamente, fazê-los aflorar com força total.
Não sei qual a parte do cérebro que odeia o coração... A memória é bipolar, parece que o lado predominante, é aquele que tem um vinculo indissolúvel com os fatos mais tristonhos que vivemos... Não sei qual o sentido da autocritica, da autopunição, se, a vida já nos pune diariamente.
Praticamente, quase todas as nossas atividades são prazerosas e envolventes, mas, somente no começo, entretanto, com o passar do tempo, tornam-se maçantes, terminando por tornarem-se uma obrigatoriedade estressante.
E os nossos sonhos e objetivos?
Eis a nossa fonte de energia, que incentiva a seguir sempre em frente, não desanimar nunca, porém, quando nos deparamos com as dificuldades do dia a dia, com a falta de companheirismo, vemos a linha de chegada se distanciar cada vez mais, então, sentimos as pernas bambearem, a motivação dar sinais de cansaço e por fim, vamos deixando diversos sonhos irrealizados na estrada da vida.
Doloroso é falar dos erros cometidos... Erros que mudaram o nosso destino.
Existem determinadas situações, na qual, lutamos com toda a força do nosso ser, acreditando piamente na vitória, pensando que tudo pode dar errado, menos este fato que se tornou o objetivo predominante do nosso querer.
Objetivo... O ponto chave da motivação, difere de acordo com a sua prioridade, podendo ser um grande amor, uma grande amizade, os Avós, a Mãe, o Pai, os filhos, ou talvez, com certa dose de egoísmo sumamente necessário, aprender a amar a si próprio, mas, constantemente surgem fatores acima da nossa compreensão, que mudam todo este quadro.
A vida é uma incógnita... O amor é um mistério... Sentimentos é algo confuso e embaralhado.
Sabemos que a traição, o remorso, a magoa, a ingratidão, a indignação e mais outra série de sentimentos, são terríveis, não saberia dizer o termo mais apropriado, a não ser que, são monstruosamente arrasadores.
E quando menos esperamos, a dor vem com força total, nos levando ao puro desespero e quando não nos resta mais nada a fazer, simplesmente choramos.
O sofrimento está muito mais presente do que gostaríamos de imaginar.
A dor vem como uma fisgada, subindo para a cabeça, deixando o cérebro descontrolado, depois, desce para o peito, naquela sensação de estar rasgando tudo, até chegar ao coração e justamente aí, transforma-se em uma bomba atômica, fazendo tudo explodir.
Hoje estou assim, exatamente assim.
Meu peito arde, a cabeça dói, o coração está apertado, além da vontade louca de sair gritando desvairadamente.
Entro embaixo do chuveiro, a agua escorrendo incentiva e deixo o pranto rolar... Choro desconsoladamente por tudo, ou talvez, por nada.
Só quero tirar de dentro de mim, este monstro que está me comendo vivo, acabando com os meus sonhos, tirando a alegria do meu ser.
Não sei quanto tempo se passou, começo a tremer de frio, minha pele está enrugada.
Pego o sabonete e me esfrego vigorosamente, talvez, querendo tirar qualquer restinho de dor.
Precisava extravasar o meu desespero, deixando o espaço livre, para as alegrias que estão por vir.
Gosto de chorar... Vem a sensação de paz... O equilíbrio retorna.
Todas as vezes que a dor for pungente, sei que irei chorar, amargar tudo de errado que aconteceu.
Ninguém pode chorar por mim, retirar parte da minha dor ou algo assim, ao mesmo tempo, é constrangedor olhar para a expressão cheia de dó, talvez, o pior de tudo sejam aquelas palavras:
- Não fica assim não... - Vai passar... – As coisas irão melhorar.
Consolar... Procurar amenizar o sentimento de dor.
Existem coisas que não dá certo... Deixe chorar, mande chorar, soltar a revolta, xingar, esbravejar, explodir em besteiras, mas, colocar tudo pra fora.
Já saí do banho e estou sentado no sofá, ainda enrolado na toalha.
Queria alguém comigo neste momento.
Queria alguém que nada falasse, não fizesse cara de piedade, simplesmente escutasse tudo em silêncio e me desse um abraço, um abraço forte.
Queria somente o calor de um abraço.
Gostaria de não estar me sentindo tão sozinho.
As lagrimas voltam a rolar.
Me levanto, coloco um cd da Adele, vou até a cozinha, tomo um copo de Coca-Cola, acendo um cigarro e me encosto no beiral da porta, olhando para a imensidão do céu.
Puxo uma cadeira, sento-me esticado, continuando a olhar para o céu, vendo as nuvens se moverem tranquilamente, quando deixo a imaginação fluir e vou descobrindo imagens e mais imagens.
Quando era bem pequeno, adorava ficar com Mamãe olhando as nuvens e descobrindo o que elas formavam... Ficávamos deitados na grama e apontando para um bicho, para um carro e rindo muito, o tempo voava na mais fértil imaginação.
Veio uma ponta de saudade... Saudade da minha amada Mamãe... Tento atravessar as nuvens, o céu e alcançar o paraíso.
Imagino ver a minha Mãe, minha querida Vovó, minha irmã, de mãos dadas, vestidas de branco, andando no meio de milhares de flores coloridas, rindo, conversando e dizendo que vou superar tudo isto, afinal, elas sabiam que haviam plantado a semente do amor e da alegria, em meu coração.
A emoção toma conta e passo a chorar forte, muito forte.
Depois de muito chorar, sorrisos começam a brotar em meio as lagrimas.
Lindas recordações da minha infância.
Affff... Ainda estou soluçando de tanto chorar.
Precisava chorar... Chorar me faz bem... O peso se foi.
Por vezes a gente dá dimensões exageradas para o sofrimento e ele se torna imenso.
A vida é isto... Um mar de acontecimentos... Misto de surpresas e espantos... Motivos de choros e risos... Um mundo de mistérios.
Volto a pensar em Mamãe e recordo-me de algo, que um dia ela me falou.
- Meu filho, lembre-se...
- Por mais que você lute, conquiste tudo aquilo que desejar, ou apenas algumas coisas das quais sonhou, por mais louca ou tranquila que seja a sua vida, ela não terá sentido sem o amor.
- O mais interessante é que, você não precisa de uma tonelada de pessoas te amando e sim, umas poucas que te amem de verdade... A gente precisa sentir que é importante para alguém, que é necessária, quase como se fossemos, indispensáveis.
- É preciso estar preparado e de coração aberto, receptivo ao amor, vinte e quatro horas por dia, pois, ele vem não se sabe de onde e entra desapercebidamente, apossando-se do nosso coração e transformando a nossa vida, na mais incrível alegria.
Vou seguir este conselho... Preciso abrir meu coração... Preciso buscar, sair, passear, livre de medos e restrições... Preciso tirar as correntes e me libertar.
Affff... Não quero mais chorar... Agora eu sei o que quero.
Quero muito reencontrar o amor.