BUENA DICHA

Hora do almoço...

O calçadão, fervilhando...

Pessoas, indo e vindo...

As lojas, abarrotadas...

Homens, mulheres e crianças sobraçando pacotes e sacolas cheias de presentes.

O sol forte de dezembro, nessa semana que antecede o Natal, é o ingrediente indispensável para aumentar a sensação de urgência nas pessoas...

Nas portas das lojas, anunciantes aos berros, tentando atrair os fregueses para aproveitarem as maravilhas do mundo das inutilidades, por preços imbatíveis...

No instante em que Eloi e os outros dois colegas do escritório saíam do restaurante, foram cercados pelo grupo de ciganas, oferecendo para ler a sorte nas mãos, por qualquer trocado ou prenda.

- Quieres saber la buena dicha, señor? – (Falou uma cigana jovem, linda, vestida a caráter com a roupa vermelha toda enfeitada com medalhas douradas.)

Eloi balançou negativamente a cabeça, mas Antonio disse:

- Sim, vamos lá. Quero saber se vou tirar, sozinho, a mega sena da virada.

Outra cigana pegou a mão de Álvaro, que tentou se esquivar, mas não conseguiu:

- Eu vejo muito dinheiro... Um amor antigo, esquecido, voltará para habitar seu coração... (falou a cigana forçando o sotaque sem origem).

A cigana que estava vestida de vermelho, olhando no fundo dos olhos de Antonio profetizou:

- Você deixará seu emprego atual... Vai fazer uma viagem muito longa e vai encontrar, nessa viagem, a pessoa que você sempre desejou...

Antonio e Álvaro disseram ao mesmo tempo, vamos lá Eloi, entregue a sua mão.

Relutante, Eloi estendeu a mão para a cigana mais velha do grupo que estava vestida de azul brilhante com o xale dourado nos ombros.

A mulher pegou na mão de Eloi e soltou-a imediatamente, dando um passo atrás com horror estampado nos olhos muito abertos, no mesmo instante em que a bala da arma do bandido, que fugia do policial, atravessava a cabeça de Eloi, que caiu morto, na calçada, por onde o seu sangue jorrava abundantemente.

A velha murmurou, entre dentes, enquanto se virava de costas para a terrível cena:

- Su vida se havia acabado, no hay dicha, ni buena ni mala... solo la muerte yo vi en su mano...