Fugindo de um roubo...
Vicente é dessas pessoas que possivelmente todos conhecemos: gosta da coisa certinha, não tolera enganações, trapaças e tampouco prejuízos.
Certo dia entrou num supermercado e comprou alguns produtos. Assim que passou pelo caixa e, antes de deixar a loja, ao conferir o troco percebeu que a funcionária do estabelecimento lhe havia dado troco errado.
Voltou para reclamar. Como não foi compreendido pela atendente, exigiu que gostaria de comunicar o fato ao gerente. Juntamente com o gerente de setor e um segurança, reconferiram o ticket com as mercadorias e, de fato, o troco estava faltando. Depois exigiu que o ocorrido também chegasse à alçada da gerencia geral, fato este que, uma hora depois, tal exigência fora atendida.
Depois de todo esse tempo perdido, umas duas hora, mais ou menos, Vicente recebeu os seus dez centavos de volta. Feliz da vida foi embora.
Vicente era assim mesmo. Dava um boi pra não entrar numa briga e uma boiada para não sair dela.
O que vou contar-lhes agora aconteceu alguns dias atrás. Quem me contou foi o próprio, num happy hour, onde eu e outros amigos o convidamos, pois ele não gosta de gastar mesmo.
Depois de uma bebida aqui, outra ali, ele largou o verbo.
Vicente, desejoso de adquirir uma dessas televisões modernas, de 54 polegas, LED, internet, etc, foi até o banco para sacar o dinheiro.
Havia assistido na tevê que uma grande loja de varejo estava com tal produto em promoção. Pechinchador como ele só, gostava mesmo de negociar com o vendedor, produto pra cá, dinheiro pra lá, choradeira pra cá, desconto pra lá... era plausível essa articulação de Vicente. Todo economista... Ah, desculpem-me. Esqueci de dizer que o Vicente é economista. Economista destes que colocam mesmo em prática o que pregam: comprar à prestação pra pagar juros? Que nada! Ele poupava e então, quando o valor correspondente ao produto a ser adquirido se totalizava, ia então adquirí-lo à vista. Confesso que não sou assim. Mas Vicente era.
Quando então Vicente saía do banco, foi abordado por dois marginais que se apossaram de todo o seu saque.
Imaginem o desespero do rapaz quando isso aconteceu. Imaginem ainda mais ele correndo atrás dos meliantes, pelo centro da cidade, desvencilhando de alguns pedestres, tropeçando em outros, gritando exasperadamente:
— Pega, Ladrão! Pega ladrão!
Disse que o troço foi medonho mesmo.
Mas Vicente estava com sorte. Diga-se de passagem, muita sorte mesmo! Não é que, quando dobrou uma esquina, se deparou com os dois marginais de joelhos, sendo algemados por dois policiais que haviam ouvido o pedido de pega ladrão e observado a correria?!
O caso então deu continuidade na delegacia. Com os bandidos presos, duas horas depois Vicente estava de volta à rua, com todo seu dinheiro no bolso. É claro que levou um sermão do delegado, sobre o fato de sair do banco com dinheiro, numa modernidade tamanha que se vive hoje, com cartões de crédito, pagamentos por internet, etc.
Como o alvo mesmo era adquirir a tal televisão, chegou na loja. Lá estava o objeto dos desejos. Preço PROMOCIONAL R$ 3.900,00 !
— Dou R$ 3.500,00 à vista e em dinheiro! — Ofereceu Vicente, para o vendedor que o atendera.
— Não posso vender por esse preço, senhor! O valor do aparelho é 40% mais caro e este preço é somente para hoje e enquanto durar o estoque.
Vicente insistiu, mas nada conseguiu. Subiu para R$ 3.600,00, mas nada. Para R$ 3.700,00, mas não surtiu efeito. Exigiu então falar com o gerente da loja. Novamente lá estava nosso amigo negociando o chefe dos vendedores uma barganha, mas a resposta foi a mesma.
— Não podemos, senhor! Este preço é o mínimo que a loja pode fazer.
Vicente, depois de meia hora de infrutífera negociação, adquiriu o aparelho e pagou-o à vista.
Enquanto a loja preparava o produto para entregar em seu endereço, Vicente saiu dali e, enquanto se dirigia para sua casa, foi passando por algumas lojas no itinerário.
De repente, ficou petrificado, quando avistou pela vitrina de outra loja, a mesma televisão pelo preço à vista de R$ 3.500,00 ou em 10 parcelas iguais no preço à vista. Ficou roxo de raiva.
— Fui roubado! — Bradou.
Numa atitude decidida, se dirigiu para a delegacia, para retirar a queixa como vítima de roubo dos dois bandidos presos.
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