DOAÇÃO
Minha amiga, membro da Comunidade Católica Epifania, foi passar o dia no hospital Infantil com Fabiana, que é da sua comunidade. Ao lado de sua cama estava uma menina branquinha, cabelos pretos, linda, de oito aninhos e Dulce puxou conversa com ela.
-Sua boneca é muito bonita.
-Também acho. Ganhei aqui.
-Eu sei. Foi a Cida, da Epifania, que recebeu uma doação de quarenta bonecas e distribuiu com as meninas deste hospital.
-A enfermeira me disse para eu passar álcool nela todinha, quando eu for para minha casa.
-Isso mesmo. Dê-lhe um banho, passe xampu e creme nos seus cabelos.
-Mas eu não gosto desta roupinha. Gosto de Barbie com roupa de festa.
-Ah... Eu também. Tem muito tempo que você está aqui?
-Não. Sabia que foi uma luz que me trouxe para cá?
-Como assim?
-A médica, da minha cidade, estava me tratando de reumatismo. Aí, o meu pai, que viaja muito de caminhão, telefonou para arrumarmos as malas para nós irmos passear em Brasília. No dia de a gente ir, amanheci cheia de caroços. Minha mãe ligou para uma amiga, que trabalha no hospital Metropolitano, e ela falou para virmos para Vitória. Não foi uma luz de verdade?
-Claro que foi!
-Pois é... Se nós tivéssemos viajado para tão longe, eu ia passar mal por lá. Sabia que a médica disse à minha mãe que tinha quase certeza que era leucemia e ela chorou muito? Mas eu não chorei. Eu assisti, na Malhação, uma menina que teve isto e sei tudo desta doença. Você assiste Malhação?
-Não.
-Depois, a Doutora tirou um líquido da minha medula e falou que é leucemia mesmo. Puxa! Coitadinha da minha! Ela chorou tanto!
-E você não chorou, não é mesmo?
-Eu chorei também.