Pai de família
Agora é 04:00 da manhã e preciso levantar para arrumar o lanche da minha filha.
Sua mãe, estar internada, pois foi assaltada e baleada.
Preciso me apressar, pois terei quatro ônibus a pegar.
Serão 03 horas de aquecimento pra batalha, gastarei mais de nove reais para soar entre corpos cansados.
Já sinto falta da minha filha, que ficará em uma creche pública, nem um pouco confiável quanto os meus braços, no entanto, ela precisará do leite ao qual irei batalhar para termos.
Às 07 costumo chegar ao trabalho, sinto fome por não ter tido tempo para comer, mas isso não é algo incomum, apenas parte da minha rotina.
Às 14, tenho 40 minutos para almoçar, mas, guardo o dinheiro para que minha filha um dia não passe o que estou passando.
Então, às 18 horas chega o momento ao qual me faz sorrir, tiro um trocado para lanchar e manter-me sustento, pois terei de guerrilhar por um espaço ao ônibus.
Costumo encontrar um doce garoto que dorme ao chão, contudo, meu pão é repartido para aquele que sofre mais do que eu.
Ele sorrir, sustentando-me a ponto de retribuir, fazendo-me
lembrar que minha filha estará esperando por mim.
Sou apenas mais um, nesse dito Brasil, sofrido, faminto, regado por mínguas, minguado por lágrimas, desregrados por parlamentados.
Resta-me contar os dias para o domingo chegar, assim poderia passear
com minha menina, pois a TV foi vendida para dar-lhe a educação devida.
Continuarei lutando para crescer, da forma ao qual os convém, pois não
dependo apenas dos braços, preciso da força de onde jamais terei.
Mas, não desisto, pois sempre irá a ver uma estória mais triste.
Amanhã é sábado, terei uma chance de clamar pela dor do nosso povo,
trocarei meu domingo com minha menina, pelo sábado do gigante,
o país além das cores descritas;
O país da dor distinta.
Clamarei com todas as minhas forças, para que meu fruto cresça
mais forte do que eu.
E que as raízes brotem além dos jarros que nos plantam.