O Salto do Trem
O Trem de passageiro da RFFSA era o único meio de transporte regular para se chegar naquelas paragens do sertão mineiro.
Sempre atrasava muito, era raro cumprir os horários determinados, visto que a manutenção da via férrea deixava muito à desejar, apesar dos esforços das equipes de manutenção. Era constante os atrasos. Naquela época especificamente, estavam fazendo uma manutenção mais consistente, o que deixava os aterros bastante vulneráveis nos trechos de aplicação.
Essa era a condução que o Tom usava para chegar até a casa dos seus pais na roça. Fora acostumado com essa lida, e no início dos seus estudos, ficou mais familiarizado ainda, já que ele estudava numa comunidade onde havia uma estação e ele, juntamente com outros colegas, costumavam pegar carona no trem quando dava partida e depois pular numa certa altura. De tanto fazer isso, acabou por adquirir certa maestria.
A via férrea passava próxima da casa dos seus pais, mas o ponto de parada ficava a uns dois kms à frente.
Naquele dia, o Trem atrasou muito, já era altas horas da noite e o Tom pensou: acho que vou pular, fica mais perto além do mais, a noite está muito escura. Eu fazia isso antes, acho que não perdi a destreza.
Só que ele havia se esquecido de um detalhe: o Trem passou a andar numa velocidade maior do que àquela que ele pulava, isso sem falar nas obras de manutenção que estava existindo no local.
Se preparou então, dirigiu para a plataforma, mas estava num dilema: tinha uma mochila de lona - havia ganhado de uns garimpeiro, a qual tinha muito ciúmes – pensou: acho que vou jogar a mochila primeiro, mas e se eu desistir de pular, vou ter que vir busca-la aqui, será pior. Vou pular com ela nas costas é mais garantido. E assim, dirigiu para a plataforma traseira.
A noite estava muito escura e a luz de dentro da classe, atrapalhava ele enxergar a parte de fora para saber se estava no local correto e com dificuldade ele, quase que no rumo, achou que estava na hora e
Saltou....
Sentiu um solavanco no braço...a mochila soltou das suas costas, seu pé enterrou na terra...e logo sentiu na orelha a sensação de umidade. Meio sem saber o que havia acontecido, ficou de pé e ainda pôde ver a luz do trem se distanciando, como nas histórias do livro Lalau e Lili, quando estudava.
Ao tentar se locomover viu que a terra estava molhada e ele com os pés enterrado. Não conseguia enxergar com nitidez, apenas o vulto e assim, voltou para procurar sua mochila, encontrou-a e percebeu que havia rebentado as alças.
Haviam iniciado os serviços de recuperação naquele trecho e naquele dia à tarde havia chovido também, por isso quando ele pulou seus pés não encontrou terra firme para apoiar.
Foi uma sorte a via não estar com brita espalhada como é normal e ele ter escolhido a plataforma traseira, porque o impulso o arrastou para cima dos trilhos, caso estivesse numa das plataformas do meio, com certeza as rodas teriam atingido alguma parte do seu corpo.
Toda vez que ele lembra deste episódio, chega a sentir um frio na espinha, ao imaginar que poderia estar com alguma sequelas ou até mesmo, passado dessa pra outra dimensão. Tanto poderia estar com o rosto desfigurado pela maneira que caiu e se ali estivesse brita, como pela maneira como caiu, puxado para dentro dos trilhos, e com certeza as rodas iriam lhe pegar.
Ao chegar em casa sua mãe perguntou: que terra é essa na orelha...?? Ele contou o corrido. Foi nesse instante que ele pôde ver que a única parte do corpo que ficou suja foi a orelha, deve ter caído de ponta, como diz.
O Tom sempre foi um menino abençoado, Deus o está sempre protegendo e essa foi uma das muitas vezes que ele foi amparado pelo Criador.