Contos Juninos
- Me soltem daqui. Não me deixem preso aqui!
Gritava Téo desesperadamente. Principal atração da quermesse junina, a cadeia, com suas grades de bambu entrelaçado, empolgava a meninada. Pagava-se uma bagatela para que os soldados do xerife da Fazendeiros da Vale prendesse alguém, que ao seu turno, deveria comprar a liberdade com o dobro do valor da prisão. Quem vendia as fichas do folguedo era Dudé, que também vendia fichas de outro atrativo, o correio elegante. Eram cartõezinhos de cartolina em formato de coração em que os casais enamorados se correspondiam.
Havia revelações e admiradores secretos, declarações de amor, e agendamento de encontros. Dudé ficava numa barraquinha, montada pela sua tia e ora em vez, vinha o xerife Bafo-de-Minhoca receber os mandados de prisão, ou Danizinha,encarregada de intermediar os flertes, recolher os românticos cartõezinhos.
- Você quem é a Elisa? – perguntou Danizinha, estendendo-lhe um correio elegante para uma componente da quadrilha local e que portava a faixa de Miss Caipirinha, fazendo o peito da jovem saltitar de expectativa. Abriu o cartãozinho. E leu de si para si.
“Um arrebatamento enorme
Elevou-me pelo ar
A escultura piriforme
Do teu corpo contemplar”
Assinado: Ludo.
Ah, Ludovico era um poeta de mão cheia. Elisa amou a declaração em forma de versos, embora não soubesse (e jamais saberia) que piriforme significa em fora de pera.
A Rua Monte Plano era a síntese da animação. Bandeirolas e balõezinhos multicores amarrados em hastes de bambus enfeitavam a rua iluminada com lâmpadas coloridas. A rua era,de fato, uma extensão do quintal de seus moradores. Formavam uma grande e coesa família. Vizinho em bairro de periferia é sinônimo de parente.
Fogos de artifícios ribombaram no céu, serpentando fachos de luzes iridescentes, multicores e efêmeras naquela noite fria de Junho. Anunciavam, ao som de sanfonas e zabumbas, a entrada da quadrilha do Tio Caio.