A Rotina da Rebordose Burguesa
Nicinha, bela jovem de 19 anos e acadêmica do curso de Direito, acordou de repente. Dentro de sua cabeça, uma verdadeira orquestra de sinos, a badalar incessantemente davam-lhe a sensação que esta iria explodir. O que não lhe causou surpresa, passara os últimos três dias em uma fazenda, dançando freneticamente em uma festa “raive”.
Seu estômago estava de todo revolto e percebeu rapidamente que, se levantasse abruptamente da cama, vomitaria todo o whisky, a cerveja, e as “bolas” consumidas nos dias anteriores.
Sua respiração era de toda incerta. Para que pudesse respirar, era necessário fazê-lo pela boca. Suas vias nasais estavam entupidas. Por entre elas, uma mistura de sangue e cocaína, também consumida nos dias anteriores, formavam uma nojenta crosta.
Seus pés estavam inchados, ao vê-los percebeu que estavam duas vezes maiores do que o tamanho natural. Pudera, pensou, ao recordar das horas seguidas em que passara dançando, lembrou ainda das inúmeras vezes em que seu pé fora pisado por alguns amalucados freqüentadores da festa.
Suas coxas estavam gosmentas, de todas grudentas. Em princípio, não sabia o porquê. Ao virar para o lado, triste constatação, havia um homem ali ao seu lado. Percebeu logo que a incômoda sensação ente as coxas eram dos fluídos expelidos pelos seus corpos.
E pouco a pouco, os acontecimentos da noite passada, a última da festa, afloraram à sua mente. Não se recordava do nome dele, mas lembrava-se de que estava dançando sozinha e de repente ela aparecera na sua frente. Em um segundo estava só, no outro, ele estava ali à sua frente.
Então ele começou a dançar e em instante e como que por extinto, o seu corpo foi, pouco a pouco, correspondendo ao dele e logo depois, os dois dançavam em verdadeira sincronia, e não durou muito tempo, saíram os dois para um local mais agradável.
Se recordou ainda, de que ele não queria o uso de preservativo, prometendo-lhe tirar no momento certo. Após tanto cocaína, whisky, maconha, tabaco e outras “cositas” mais, consumidas durante os últimos três dias, ela pouco se importou.
- Será que terei que fazer mais um aborto? Indagou. Ficou a coçar a cabeça por alguns instantes, olhando para o companheiro ao lado. Falou para si mesma.
- Papai não vai gostar!
- Ele que se dane!!! Gritou.
Virou para o lado, pegou sua bolsa, ficou a remexer dentro dela por alguns instantes. Logo depois, tirou de lá de dentro um baseado, o qual acendeu. Enquanto fumava, ficou a “viajar” e a fazer planos para a festa do próximo final de semana, a qual não perderia de forma alguma.
Seu pai era um famoso ministro por todos respeitado. A festa ocorrera em uma de suas fazendas. Os frequentadores eram filhos da mais alta elite brasileira. Seu pai estava em Nova York, em uma conferência da ONU sobre Direitos Humanos e naquela manhã acordara vislumbrando o aprazível corpo nu de sua atraente secretária.
Sua mãe estava em Angra. Na ilha de um renomado jogador de futebol, que estava de férias no Brasil e que também era um de seus amantes ocasionais. Porém, prefere ela as mulheres, são mais atraentes e delicadas, afirmara certa feita.
Jéferson Bortolo
jeffbortolo@estadao.com.br