Caminhada

Não entendia o porquê da tristeza.

Somente a sentia.

A todo instante, todo dia.

Buscando respostas para tudo o que sentia

Jorge decidiu que não mais suportaria

Continuar assombrado pelo o que vivia.

Resolveu então voltar

Sentou-se em frente ao mar.

A sua alma necessitava

Daquela paz, daquela calmaria.

Então a sua infância veio

No instante em que viu uma criança chorar.

E ouvindo a canção das ondas

Mergulhou nas tempestades turbulentas que formavam a sua consciência

E pôs-se a nadar no abismo de sua subconsciência de ondas fortes que quebravam em sua inocência.

A criança que vira

Ainda chorava por perder um balão

Em sua mente, aquela cena transformou-se numa gigantesca porta

Que dava para um castelo assombrado por fantasmas habitando uma sedutora escuridão.

Nesse castelo o rei era o medo

E os fantasmas, seus soldados.

E ao abrir o imenso portão deparou-se com uma criança caída, pálida e congelada. Estava morta.

Em seu vestido de renda estava escrito: “Inocência”.

Viu pedras por todo lado

Apareceu então de um quarto escuro, um espírito que se chamava “Imaginário”,

Dizendo que tentou muito salvá-la

Mas as pedras que caíram sob ela foram fatais à sua fragilidade.

Sendo assim, seu espírito está adormecido num abismo que para sempre ela adormecera.

E a partir dali, a Inocência só encontraria a vida novamente quando o seu espírito se libertasse do reino das trevas, lugar que somente Jorge poderia tirá-la e resgatá-la.

Jorge então sentiu um forte vazio,

E viu-se pequenino, trancado num quarto escuro e frio

E pôs-se a lembrar do que na infância lhe fazia chorar

Quando a dor era tudo que ele podia encontrar

Em meio o caos que vivia,

Naquilo que ele chamava de “lar”.

Sendo assim, resolveu-se levantar

Como alguém que tivesse encontrado um tesouro perdido

Como alguém que tivesse encontrado enfim, o seu lugar.

Prometeu a si mesmo que ninguém mais iria o machucar.

Olhou para o sol que suavemente desceu no crepúsculo

E pela primeira vez já não temia

A escuridão iminente que vinha.

Pegou sua pesada mochila

Como quem carregava uma alma pesada de dores escondidas

Cheias de traumas e fobias

E pôs-se a caminhar com um sorriso que nunca sorrira.

Porque pela primeira vez na vida,

Resolveu criar um quarto iluminado

Onde habitaria amor, a esperança e a alegria.

E nada mais o incomodaria

Pois enfim, tinha encontrado a razão da sua morte precoce

Depois de mergulhar na infinita dor de sua melancolia.

E por fim, depositou em seu coração

Fé, confiança e coragem

Para enfrentar o seu castelo de medos

E espantar todos os seus soldados.

E teve coragem para enfrentar a vida.

A partir daquele momento, ele criaria um chão para pisar todos os dias.

Mesmo inseguro, mesmo amedrontado com o mundo.

Ele iria pisar, arriscar , mesmo com receio de cair

Mas não iria desistir.

A confiança em si mesmo agora era tudo que tinha para resgatar aquela linda criança acorrentada num submundo de tortura e agonia.

E Jorge então começou uma nova caminhada…

Obs.: Esse texto foi publicado como poesia aqui antes, mas depois eu vi que se tratava de um conto e não de uma poesia.

O Autor.