Merenda escolar

Havia dois tipos de alunos na classe: uns grandes, meio deitados na cadeira, virados para trás, de olhos mortiços; outros deitados na mesa de escrever, olhos grandes e encovados. Não havia aula ou brincadeira que os movia de verdade.

Comentei com a colega de longa experiência no local e ela disse que, sem merenda, eles ficavam sempre assim.

Aquilo me dava uma raiva danada do mundo e um profundo desânimo de professora.

Pensamos e tivemos medo de verbalizar, mas concordamos:

_ Naquela mata tem panã, araçás e gabiroba...

_ É perigoso.

_ Tem outro jeito?

_ Amanhã.

E o horário escolar passou a ser assim: primeiro resolviam as questões dos patrões e a lida com os animais; depois eram reunidos para a merenda na mata.

Saíamos com pequenos frangalhos encardidos que voltavam meninos saltitantes e prontos para a alfabetização.

Yura Acy
Enviado por Yura Acy em 05/02/2013
Reeditado em 04/03/2013
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