Merenda escolar
Havia dois tipos de alunos na classe: uns grandes, meio deitados na cadeira, virados para trás, de olhos mortiços; outros deitados na mesa de escrever, olhos grandes e encovados. Não havia aula ou brincadeira que os movia de verdade.
Comentei com a colega de longa experiência no local e ela disse que, sem merenda, eles ficavam sempre assim.
Aquilo me dava uma raiva danada do mundo e um profundo desânimo de professora.
Pensamos e tivemos medo de verbalizar, mas concordamos:
_ Naquela mata tem panã, araçás e gabiroba...
_ É perigoso.
_ Tem outro jeito?
_ Amanhã.
E o horário escolar passou a ser assim: primeiro resolviam as questões dos patrões e a lida com os animais; depois eram reunidos para a merenda na mata.
Saíamos com pequenos frangalhos encardidos que voltavam meninos saltitantes e prontos para a alfabetização.