A visita

A toalha abraça – me o corpo , numa carícia felpuda . Visto a calcinha mais sexy ; sutiã : hoje não é dia .Depilada como ele gosta , lisa e cheirosa. Vestido novo, sapato nem tanto , mas combinando com a roupa , mostrando o que deve ser mostrado , o suficiente pra observar nos homens o olhar esfomeado , fingindo nada perceber , triturando a macharia no salto agulha .

Quarenta bem vividos, não me troco por muita cachorrona de vinte , sei me garantir , na ponta do salto alto . Logo hoje , uma data especialíssima . Perfume importado, mas trabalho tanto pra que ? Os filhos já casaram, nesses dias serei uma vovó tesuda ; quem sabe ? Hoje é domingo , há essas horas a vizinhança já curtindo a manguaça da manhã e de início da tarde .

Escuto ao longe, o rádio do Dida , tricolor doente pelo time e pelo rádio , que tira o som da TV e deixa em cima aquela peça de museu , berrando a todo volume , com aquele sinal de tempo, que me dá não sei porque uma angústia tão forte , uma sensação horrorosa de solidão e abandono ,como se não existissem coisas piores , que uma solidão de final de tarde e um ônibus que demora a chegar .

Na subida do lotação , o boa tarde e olhar tarado do motorista tal uma ereção me homenageando, aquele bigodinho tipo rodapé de xota e dedos manicurados acionando a alavanca de câmbio , por cima, aquele olhar pidão, de me dá, me dá .Passeio minhas lembranças pelas ruas do bairro , das mudanças dos últimos anos nas ruas , nas praças , em mim mesma .

Mulher de malandro , com carteira assinada , estabilidade e tudo o mais. Meu Nininho querido já puxando a terceira cadeia , agora por assalto á mão armada com morte da vítima . Ao menos fosse um banco , justificaria aqueles vinte e um anos de xilindró ,dava uma parte pros homens e já estaria na rua; dinheiro de banco , ninguém reage , o seguro paga e tudo bem . Mas o otário entrou em pânico e levou uma azeitona na testa ; duzentos miseráveis reais,um traíra nojento e os homens foram encima do Nininho. Cinco anos de cana braba completados hoje , não bastando , vou engolindo um brejo de sapos goela abaixo , mas o que necessita ser feito, será .

No presídio , dou boa tarde , sou revistada e entro na fila do motel – xadrez , os olhares dos guardas despem as mais jovens da fila , mas também estou no páreo , ver com os olhos e comer com a testa , as cantadas embrulhadas em riso maroto pulam daqui e dali . Dois corredores escuros , cinzentos de burocracia e tristeza , quatro filas de portas , a transa por conta da Mãe Gentil ; chega a nossa vez .

Conversamos um bocado , Nininho mais macio ,cabelo reluzindo a gel, sobrancelhas de dançarino de tango ,um perfume novo ; meu homem mudou e suspeito saber por quê .No quarto , beijo – o com a ferocidade de minha tesão , na cama explora meu corpo : a sua casa ,sua perdição , fazemos amor feito dois animais , como se nada sobrasse após o sexo , no mundo que não tá nem aí pra gente . Depois olho para o teto , o ranger do velho ventilador agora incomodando como nunca ; as paredes mais descascadas , a água do chuveiro bem mais fria, a privada mais fedorenta .

No banho,vejo ao ensaboa -lo uma nova tatuagem , N e A , no ombro esquerdo ,agarradinhas , formando uma letra só . Vejo me fazendo de cega ; Nininho veste o corpão imponente e gostoso , segura bem os cinqüenta anos .

Visto - me rapidamente , tiro o estilete da alça da bolsa , cravo com fé e força no seu peito luzidio , caiu sem dar um ai .Abro lentamente a porta ; do final do corredor , Mauricéia , minha prima e faxineira naquela merda , aponta a porta da frente. Sai do quarto um belo casal , Aldinho do Olho Verde e sua gostosa , lindos e molhados . O estilete funciona novamente , entra naquele peito sacana , torço e puxo de volta - no que é da mulher ninguém mete a colher; ele geme e tomba sobre a gostosona , caem no chão , ela grita ,convulsiona ,banhada no sangue dele , que jorra aos borbotões .Aliviada , sento no chão , calmamente risco com o estilete , um ensangüentado jogo da velha , enquanto o corredor fica coalhado de gorilas armados , com seus canos apontando pra mim.

andre albuquerque
Enviado por andre albuquerque em 10/01/2013
Código do texto: T4076785
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