Muladeiro (capítulo XIV)
A presença de uma figura feminina era rara, naquele ambiente domiciliar. Desde a morte de Ernestina, Teodoro chamou os irmãos para morarem dentro da casa, uma vez que o espaço era de sobra e quase havia eco pelos cômodos, pois todas as coisas e lembranças da esposa, o marido se desfez.
Esporadicamente, chamavam Jacira, uma prima de Mariquinha, para faxinar a casa, lavar as roupas mais encardidas e fazer um bom assado de carne com legumes. Ela era uma mulher de poucas palavras, mal erguia a face e preferia estar sozinha durante os afazeres domésticos.
____ Olhando bem procê, até que tu é uma potranquinha novinha e fechadinha, hein, Jacira! - disse Teodoro quando foi beber água - Que tal fazer um agradinho aqui pro patrão?
Jacira mal conseguiu soltar a vassoura das mãos, quando Teodoro a agarrou pelo braço direito, e com a outra mão rasgava-lhe as vestimentas, como se rasga um papel.
____ Grita não, putinha, grita não. Sei que tu quer isso agora mesmo.
Os gritos não vieram, mas a luta corporal iniciara-se , mesmo sendo uma vã tentativa; a força dele era demasiada para enfraquecer Jacira.
Trêmula, nua, cobrindo seus pudores e enrolada em si mesma Jacira não conseguia chorar. Seu olhar estava parado, fixando a poeira acumulada no chão da sala. Os olhos denunciavam agressão, o inchaço era notável e o roxidão era o sinal da violência. Sentia dor no braço, nas pernas e a cabeça rodava feito pião quando lançado na terra.
Arrastando-se pelo assoalho, alcançou sua roupa rota e retalhada, e nesse momento Minduim deparou-se com a cena constrangedora na qual Jacira se encontrava.
____ Vem cá, moça, deixa eu te ajudar. Se segura em mim. Vou te erguer. Fica tranquila, nem tô olhando pra você.
Jacira não conseguia sentir vergonha ou medo do funcionário do patrão. Tudo o que ela queria, era se livrar daquele momento, daquela casa, daquele cheiro de podridão que instalara-se em suas narinas.
Cabisbaixo e demonstrando respeito, ajudou Jacira a se vestir, deu-lhe água, aplicou unguento nos hematomas, e saiu pela porta da sala, com seu facão em punho e seguro de sua próxima atitude.