O GATO QUE É RATO

Era uma vez um gato.

Sua pelagem era uma matiz em preto/castanho e branco, um grisalho. Suas patas eram lindas, apesar de suas unhas compridas e afiadas.

Certa vez, esse gato adentrou a cada de dona Persiana e vasculhou tudo, mas não encontrou nada de que pudesse se apoderar.

Frustou-se então e murcho como uma camélia que caiu do galho, saiu de lá e foi mexericar na casa da vizinha, dona Leviana.

Encontrou lá muita energia e muita comida para abastecer todo o seu poço. Em troca, enlaçou dona Leviana emocionalmente fingindo ser um companheiro inseparável.

Quem via o tal gato não imaginava que agia como um rato, na calada da noite, sorrateiro,e comendo pelas beiradas, só esperando por uma oportunidade para se dar bem.

Ele, o gato, fez o que era de se esperar. Percebendo que dona Leviana o preenchia de mimos, de comida e de cuidados fez-se seu bichinho de estimação e aguardava todos os dias o seu pagamento para os seus préstimos.

Um dia, quando dona Leviana estava preocupada por seu dinheiro ter acabado e não tinha como comprar a ração açucarada do gato, ele saiu da casa dela para procurar outra que desse os tais mimos. Afinal, ele não era de sair a luta para conseguir o seu alimento.

Foi então para a casa de dona Janeliana e ocorreu que também não haviam guloseimas e ainda, quando ela o viu se encostando, o tocou de lá.

O gato, desanimado por não ter mais para onde ir, ficou prostrado por vários dias. Por fim, sua única saída foi voltar para a casa de dona Leviana que , coitada, o recebeu com os braços abertos.

Estando ali, ele continuou pensando quanto tempo aguentaria ficar ao lado dela já que ele já havia devorado tudo o que ela possuía de bom e estava gastando a sua reserva de emergência.

Como era de se esperar, dona Leviana, certa noite, encontrou o gato se preparando para partir e ela, com muita raiva por ter sido enganada de novo, o enxotou com uma vassoura.

Ele, com ódio dela, entrou dentro do carro dela e rasgou todo o estofamento com suas unhas afiadas e gigantes. Dona Leviana ficou muito triste e repleta de desgosto.

O gato passou então a procurar uma outra vítima para satisfazer os seus caprichos e que possuísse as mesmas características de dona Leviana, ou seja, que precisasse de seu chamego.

Encontrou dona Fechaduriana que, não conhecendo a história dele, compadeceu-se com a cara de coitadinho que ele fez e o abrigou.

Certo dia, encontraram-se na farmácia dona Leviana e dona Fechaduriana que estava com o gato nos braços.

Dona Leviana avisou a moça do que ele havia feito e dona Fechaduriana não acreditou, mas mesmo assim, por via das dúvidas, colocou-o para fora de casa.

Passaram-se alguns dias e o gato havia sumido da redondeza. Ele havia desistido de procurar vítimas na freguesia pois, a sua fama estava conhecida.

O gato grisalho andou muito. Por onde ele passava deixava o mesmo rastro de falsidade até que um dia, um velho senhor, sentado no banco da praça, disse a ele:

- Gato, pare de ser um rato! Pare de usar as pessoas! A sua fama já chegou aqui! Pare de roubar a comida, o sentimento e os bens das pessoas! Pare de se aproveitar das pessoas carentes!

E o gato respondeu:

- Senhor velho, eu preciso ser assim. Fazendo-me de vítima eu conseguirei tudo o que eu quero e não precisarei me esforçar.

- Gato, você está agindo errado. Não demora muito e você terá um mal final.

O gato rato deixou o senhor velho rindo-lhe pelas costas.

Passou-se o tempo.

Nada mais se ouviu sobre ele, o gato rato...

Bia Fernandes
Enviado por Bia Fernandes em 04/12/2012
Reeditado em 04/12/2012
Código do texto: T4019257
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.