O arame
O pequeno Tom desde muito cedo já tinha as suas obrigações na propriedade, apesar da pouca idade. Uma delas era na lida do gado, principalmente no período da tarde, quando tinha que arrebanhar o gado, para apartar as vacas leiteiras dos seus bezerros, tarefas essa que se repetia todos os dias.
A casa era simples, de adobe, revestida, com janelas e portas de madeira na cor verde, piso em ladrilhos cerâmicos.
Do lado esquerdo e pelos fundos, um pequeno pomar, que sabes lá como, conseguia resistir às intempéries das secas, normais naquela região. Ali tinha pés de manga, de coco da bahia, laranjeiras, limeiras, pés de pinha, abacateiros, etc; do outro lado uma casa de arreios e de apoio. Pela frente, um pequeno terreiro, e na sua extremidade lateral um arame farpado esticado, que servia de varal, além de algumas árvores que servia de abrigo para amarrar as montarias tanto da propriedade como dos que ali chegassem.
Naquele domingo, o sol já se inclinava para o horizonte, sinal de que estava na hora de fazer a separação do gado.
O Tom com seus oito anos, se sentia orgulhoso de poder fazer as tarefas de gente grande. Dirigiu-se então para pegar o cavalo que seu pai havia deixado amarrado à sombra de uma árvore.
O cavalo que atendia pelo nome de “gaúcho”, era um cavalo dócil, mas tinha a mania de desvencilhar sempre do cabresto quando ficava amarrado por muito tempo.
O Tom ao ver que o animal não estava ali, foi à sua procura, sabia que deveria estar dentro do pátio em algum lugar. Como era um animal muito manso, nem se preocupou em levar o cabresto. Logo o encontrou, resolveu monta-lo assim mesmo. E assim, sem cabresto e apenas com suas perninhas curtas fustigando-o na barriga, fez direcionar para o local que ele estava antes amarrado.
O pequeno Tom se distraiu, e esqueceu do arame farpado esticado. O cavalo cruzou por baixo do arame, e o Tom sem poder parar o cavalo - pois não estava com o cabresto - foi ficando desesperado...logo sentiu o grampo do arame encostar na sua garganta e ele sem poder fazer nada, apenas emitindo o som de costume, quando lidava com os animais: pssssiu...pssssiu...e foi voltando o corpinho para trás, mas o encosto da sela não deixava inclinar muito e assim o arame foi entrando na sua garganta e ele foi entrando em desespero, nem tinha como pular pois estava preso à sela e ainda tinha medo de se machucar.
O cavalo por ser um animal muito manso, ao perceber o movimento sobre a cela diferente do de costume – o animal tem dessas coisas, eles acostumam com o jeito do seu dono ou daqueles que o montam – acabou por parar e o Tom com suas mãozinhas, forçou o arame para frente e com dificuldade, desvencilhou daquela coisa complicada.
O sangue ficou escorrendo e mesmo assim ele ainda colocou o cabresto no cavalo e o amarrou.
Ficou morrendo de medo de levar uma surra do seu pai, mas não tinha como ir tanger o gado daquele jeito. Pegou um pouco de algodão que havia sido apanhado na roça e colocou em cima do corte. Não sabia que tamanho teria sido. E assim, de um jeito desconfiado foi até eu pai que estava na cozinha e ficou por ali desconfiadinho...o seu pai apesar de austero, era um homem inteligente, logo percebeu que havia algo errado, pois seu filho já deveria ter ido e não estar ali ainda. Logo percebeu que havia um ferimento e o Tom com muito medo de apanhar teve que contar. Mas dessa vez nada demais aconteceu. Logo sua mãe fez um curativo apesar do tamanho do ferimento ser merecedor de alguns pontos, mas não havia meios para fazer isso. Por sorte nada demais aconteceu, apenas uma pequena cicatriz como lembrança.