Muladeiro (capítulo XI)
"...____Ela sai de um corpo que está cheio de angústia e sofrimento, para um de felicidade plena...", com essas palavra o pároco da cidade deu início ao funeral de Ernestina, que jazia no caixão marrom, sobre a mesa da sala.
Os passantes benziam-se, outros colocavam a mão direita sobre as mãos entrelaçadas da defunta e ainda havia aqueles que se demoravam mais, contemplando-a com palavras silenciosas e de amizade.
"Pobre criancinha, o que vai ser dela sem a mãe?" - comentavam algumas mulheres, chacoalhando a cabeça em sinal de negação. " Como assim? O pai dela não veio? Êta coração empedrado desse homem, sô. Vai ver que ele pensa que caixão tem gaveta" - balbuciou Vicentão, enquanto colocava a mão esquerda no queixo, mantendo-se discreto, pois naquela sala, era o único que sabia das picuinhas do passado entre Ernestina, seu pai e Teodoro.
Durante o trajeto até o cemitério, as mulheres revezam entre o terço, ladainhas, sempre recitadas pela mesma pessoa, e músicas de Ave Maria. Os homens alternavam-se para carregar o esquife, Teodoro e Antonio seguiam ao lado do padre, que jogava água benta pelo caminho, enquanto o incensário era balançado pelo coroinha.
____ Vem cá, filho. Jogue três montinhos de terra no caixão da mãe, e faz o sinal da cruz - solicitou Teodoro, que mal continhas as lágrimas, entre largos soluços.
As pessoas se amontoavam, pois a tradição dos três montinhos de terra e o sinal da cruz, na testa, eram sagrados, e caso não fizessem a cerimônia, o mau agouro era esperado.
O dia estava quente, mas uma leve brisa soprava no cemitério, fazendo com que as pessoas continuassem com suas preces de despedidas e, também, esperassem até a última pá de terra, que o coveiro jogava naquele espaço oco.