Muladeiro (capítulo IX)
Na segunda-feira, levantaram-se mais cedo que de costume, adiantaram o serviço, pediram licença para o patrão, explicaram-lhe a situação e foram à cidade postar a carta. O nervosismo de ambos era tanto, que preferiram caminhar os oito quilômetros que separavam a fazenda da cidade. Quase não se falaram durante a caminhada.
____ Bom Dia, Antonio. Cê vai bem? – Israel cumprimentou o agente do correio.
____ Boa Dia Israel, vou indo, assim, assim. Sabe como é, né? Depois da morte da minha mulher, ando meio desgostoso da vida. Maldita doença que nem deu tempo do doutor salvar minha amadinha. Mas, o que o amigo quer? Ver se tem alguma encomenda pro patrão? Já vou dizendo que nada chegou. Faz tempo que nada chega pro Seu Léo.
____ Nada disso, Antonio, eu quero enviar essa carta pra minha mãe. Sabe dizer quando a carta chega às mãos dela?
____ Oras! Vocês têm parentes, é? Nunca soube de nada! E olha que aqui, a gente sabe tudinho do povo da região. – comentou Antonio, dando uma risadinha sem graça.
____ Temos família inteira. Deixa de conversa mole e me responde sobre a trajetória da carta.
____ Uma carta pra sua cidade vai demorar quatro dias. Pode ser?
____ Já que não tem remédio, remediado fica – resmungou Minduim, demonstrando aborrecimento.
Pagaram pela postagem, saíram despedindo-se amigavelmente do agente e não olhara para trás. Na volta, pegaram o ônibus que saía a cada duas horas para o bairro onde ficava a fazenda. Novamente, mal trocaram meia dúzia de palavras