O Leito de um hospital
O leito de um hospital
A maioria das pessoas não tem idéia do que é estar num leito de um hospital, a não ser que já estiveram por lá. Normalmente quem está ali, está em busca de melhoras, seja de uma enfermidade, seja de estética ou nenhum desses, como é o caso daquelas que vão dar à luz. Dentre àqueles que vão em busca de melhoras, tem os casos que são programados; os que buscam descobrir que mal o afeta e ainda, existem àqueles que entram de urgência. O certo é, que todos acabam por ficarem fragilizados diante da “incerteza” do fato de que suas vidas dependem dos cuidados que são oferecidos ali.
É num leito de um hospital onde nos sentimos mais frágeis diante da vida, principalmente num leito da enfermaria onde quase sempre o paciente não pode ter acompanhante. Esse fato faz com que nos sintamos sozinhos.
Enquanto estamos ali, temos tempo para pensar, refletir, avaliar, repensar nossa vida, nossos atos, etc. É certo que cada caso é um caso, mas a maioria que entra ali e “sente” a morte de perto, ele deixa o hospital bastante mudado em ralação quando entrou, normalmente com um discernimento mais evoluído da vida.
E foi numa entrada de urgência que àquele jovem se adentrou naquele hospital, levado por mãos amigas. Era uma sexta –feira, tarde-noite dos anos 90.
Só teve consciência do fato quando seu pé que estava um pouco pra fora da maca, esbarrou numa quina de parede, na pressa dos enfermeiros em levá-lo para sala de cirurgia – nesse momento ele recobrou os sentidos. Sem entender direito onde estava, mas logo seus olhos foram familiarizando com o ambiente e ele se situando com o lugar e também, acabara de lembrar que estava ferido.
Foi um verdadeiro corre-corre naquele momento no hospital, a cirurgia era de urgência e ele teve consciência da gravidade do seu ferimento, havia perdido muito sangue. Escutou alguém dizer, precisa tomar sangue, não dá para aplicar a anestesia assim. Alguém perguntou lhe perguntou:
- você sabe qual o seu tipo sanguíneo?
“0” negativo – respondeu.
Logo veio um problema: não havia estoque do sangue “0” negativo e também não estavam encontrando nos outros hospitais. Foi àquela ginástica para conseguir, ele acabou por não ficar sabendo direito onde conseguiram o tal sangue, alguns disseram que foi alguns doadores.
Esse jovem sempre foi um protegido do Criador e mais uma vez, Ele (o criador) abençoou as mãos dos médicos e a cirurgia foi um sucesso. Quando ele acordou estava naquele ambiente tranquilo, na penumbra, com poucos leitos, e apenas uma enfermeira. Ele pôde sentir que a sua perna estava com alguma coisas diferente, era os pontos. A enfermeira aproximou e disse:
Olá...você está no CTI. Sua cirurgia correu tudo bem, agora é só ficar calmo e se reestabelecer, qualquer coisa é só me chamar estarei sempre por perto.
Bem, as horas que se seguiram foram momentos de verdadeiro bombardeio de pensamentos em sua mente. Sabia que lá fora um mundo de perguntas aguardavam respostas, todos queriam saber como foi e porque foi àquele acidente, sua vida naquele momento deixava de ter privacidade para ser notícias. Estava se sentindo como se o mundo tivesse desabado sobre a sua cabeça...
Ficou por alí, 24 horas, depois o transferiram para a enfermaria, não tinha o conforto nem a atenção do CTI.
Os dias no leito de uma enfermaria não é nada agradável, principalmente às tardes, com certeza é onde o enfermo sente mais saudade dos seus, onde a solidão se faz companheira.
No cair da tarde para as trevas da noite, a chamada hora do ângelus, a nostalgia, a saudade, a angústia bate forte...Os últimos raios de sol refletem através da vidraça, a agonia da tarde que morre e a esperança de um novo dia mais alegre.
Todas as tardes naquele hospital era assim... e ele pensava: como seria o amanhã, quando ele saísse dali...quantas perguntas a responder? como seria sua vida? iria ficar com sequelas? Como seria o pra frente? De uma coisa ele tinha certeza, estava mais próximo de Deus, sua fé muito mais fortalecida.
Ao sair do hospital, encontrou o mundo lá fora como ele imaginava: cheio de perguntas. Todos queriam saber o que tinha acontecido e porque tinha acontecido, já que sempre foi um cara tranquilo, de boa paz.
Os dias que se seguiram foram de verdadeiros “bombardeios” nas colunas policiais dos jornais da cidade. Sua vida, sua privacidade ficou exposta e ele se sentiu nu diante da vida, como se tivessem tirado suas calças, puxando-as pelas pernas e ele impotente sem poder fazer nada.
No início ficou um pouco constrangido, mas depois foi se acostumando, ou melhor, teve que se acostumar com àquela situação.
Todos os seus amigos e conhecidos queriam saber o porquê dele ter levado um tiro, foi uma surpresa muito grande na cidade, principalmente para àqueles de convivência mais próxima e lógico, para sua família também.
Como não havia outras notícias mais importantes na cidade a serem divulgadas, os jornais ficaram explorando os depoimentos e fazendo sensacionalismo, colocava-os em verdadeiras manchetes.
Os depoimentos acabaram revelando que o tiro foi causado por ciúmes o que levam aos seus amigos a ficarem fazendo chacota com ele, ainda mais da maneira como foi e na posição da perna que foi, na coxa próxma a virilha.
Bem, mas nada como um dia atrás do outro e tudo acaba passando. Como diz alguns, o tempo é o melhor remédio. E esse tempo fez com que a tempestade se acalmasse e avida retomasse o seu curso normal claro, com pequenos ajustes evidentemente.