Muladeiro (capítulo V)
A conversa não foi adiante. O paciente saiu da sala com a face rubra, feito pimenta brava,sem escutar mais nada daquilo que o médico precisava lhe falar. Ficara inconformado com aquela notícia. Passou o resto do dia calado, e sozinho derramava pesadas lágrimas, denotando profunda tristeza.
Aquele segredo fora mantido pelo casal. Israel e Minduim suspeitavam de algo, entretanto não questionavam ninguém. Preferiam ser discretos e manter o emprego. Sabiam que o patrão era homem que não comentava a vida que levava.
Aquele temporal deixou marcas irreversíveis. Teodoro, com o coração envolto em ódio, mandou que sacrificasse a mula que o deixara estéril.
_____ De jeito nenhum, Minduim, vou matar a mula. Ela é uma formosura. Trabalha por dois animais. Quem mandou ele ficas detrás dela. Té parece que ele não sabe que elas coiçam mesmo. O patrão endoideceu, sô! – comentou Israel, inconformado com o pedido do senhor Teodoro.
Minduim estava mais assustado ainda, pois ele tinha enorme amor pelos animais, e só de pensar em sacrificar algum, inventava uma disenteria e dor na barriga. Enfurnava-se pelo mato, e de lá saía apenas quando se sentia melhor. Muitas vezes, isso durava até dois dias.
Mas, Teodoro não tinha qualquer compaixão pelos animais, e sempre que se deitava com a mulher, lembrava-se do ocorrido, e a raiva que sentia da mula era maior do que a serventia dela. E foi de tanto perguntar se o animal ainda estava pelo pasto, que Minduim respondeu:
_____ Tá sim, seu Téo. E o patrão bem sabe o quanto eu tenho respeito pela sua pessoa e pela patroa, mas essa desgraceira num faço de jeito nenhum, e se quiser, pode até me mandar proutas bandas, vou sem pestanejar.