A SAGA DE MARIQUINHA Parte II (A Ovelha Saionara)

A SAGA DE MARIQUINHA PARTE II

A Ovelha Saionara

Eram Revoltosos que muitas vezes saqueavam fazendas e viviam se escondendo das Volantes que eram forças regulares do governo. Após interpelar a Madrinha deu boas risadas. Percebendo logo que éramos gente humilde, inofensiva e honesta que perambulavam sem terra, sem teto e sem emprego, e que não oferecíamos perigo algum adiantou-se dizendo:

__“Não, precisa não, senhora”! Não precisa chamar seu marido não. Estou vendo que ele está trabalhando! Quero vos dizer que nós também vamos acampar logo ali, naquelas árvores ali está vendo, não se preocupem! Somos de paz!

Perceberam que passávamos privações, trouxeram-nos carne seca, raspadura e uma cabaça d'água. Como já estávamos acendendo o fogo, foi só assar o quarto de bode, e farinha que já tínhamos esmolado o suficiente.

Foi só nos assentarmos em círculo em volta da fogueira, comemos e bebemos água que chegou em boa hora. Pois a cabaça que carregávamos com água num tropeção espatifou-se. A água na terra sêca como uma esponja sugou, tão rápido que em uma piscada no local já só se via poeira. Apesar do medo que de fato tivemos foi um jantar de fartura nesse dia! Apesar de demonstrarem simpatia, nós ficamos muito desconfiados. Naquela noite, ninguém dormiu direito todos com lampejo de medo, daqueles estranhos cavaleiros, com suas enormes armas, enormes punhais e um rosário de balas, munição. A madrinha por precaução mandou todas as meninas ficarem as escondidas, por medo, de que aquele bando de homens, desejasse alguma.

As altas horas da noite alguns deles ainda conversavam em volta do fogo que fizeram, e com um violão entoavam lindas músicas de Petrônio. A gente que estava do lado dos ventos dava para serem ouvidas direitinho. Pela madrugada, surpreendentemente como chegaram em suas montarias, arribaram sem que quase ninguém os visse, acho até que só Eu que estava acordada observando tudo pelo buraco do pedaço de pano que servia de cobertor.

Sob a penumbra do alvorecer, quando as corujas ainda piavam rasanteando o solo, nós também fizemos preparativos e partimos, sob o sombreado da alvorada que anunciava mais um dia escaldante.

Afastada da madrinha Dasdores que se compadecendo da criança havia retornado fortuitamente pegando-a para Si, mantendo-a as escondida com a ajuda de outras conseguia ficar quase o tempo todo sem ser notada, mantendo o disfarce e dividindo o seu bocado com o pequeno Pêu, que não fora devorado pelas jaguatiricas.

Haveria banho, contudo, somente quando chegássemos o rio em Juazeiro da Bahia. Meus cabelos grandes, sujos e de tanto apanhar na cabeça com o bastão, criou um cascão de sangue coagulado com sujeira e poeira, eu coçava com as unhas sujas e a ferida não fechava e chegou a criar bichos. Era tanta a agonia e inquietação em meu cérebro parecia que ia enlouquecer. As vezes sonhava com lugar as margens de rio, onde pudesse banhar-me, andar descalça nas pedras roliças da cachoeira, e cuidar animais e plantar horta, e tudo parecia uma realidade distante demais.

À noite partimos rumo a Juazeiro da Bahia. Ao aproximarmos de Juazeiro, madrinha foi logo fazendo as recomendações:

__ Olhe aqui! Prestem bem a atenção! O rio é perigoso não se atirem como animais sedentos nas águas.

Porém como animais sedentos ao bebedouro esqueceram-se das recomendações e beberam bastante água e se molharam , mas deixaram para se banhar do outro lado do rio.

__ Atravessamos o rio sob a benevolência de canoeiros, fomos para o lado esquerdo do rio, Petrolina. A madrinha mais uma vez foi logo propalando:

__ As meninas ao chegarem lá, venham todas comigo e os meninos vão com Juca, todos para um bom banho e com cuidado: água não tem cabelos!

__ Ali chegando, escolhemos um local discreto e ignorando as recomendações da madrinha, nos atiramos nas águas exatamente como animais sedentos ao oásis. Nesse dia ficamos toda a manhã brincando nas águas do rio até as vistas turvarem. A madrinha nesse dia nem se quer se lembrou de nos mandar esmolar, como se reconhecessem a necessidade de um dia de lazer para aquelas crianças mendigas. O certo é que também estavam todos exaustos, ficamos sem comer aquele dia, mas ninguém se incomodou.

Ao amanhecer pedimos umas poucas esmolas, somente para servir de café e já sentíamos saudades de deixar aquelas frescas águas, a correnteza o banho.

Depois de certo tempo preparamos para partir. A madrinha mesmo temperada pela dureza da vida, as vezes brotava-lhe sensível tristeza relembrando filho perdido na areia do riacho para irracional jaguatirica e chorava. Dasdores aconselhada pelos demais segurava quanto podia o segredo que carregava.

__ Hei Mãezinha não pára agora! Acho que agora é que vai começar a parte boa da história, porque parou? Conta logo mãezinha, conta, conta, conta, conta!

__ Está bem, espere só um pouquinho!

Espere aí só mais um pouco, já vou continuar. Deixe-me ver quem está chamando!

__ Comadre Quinha! Ô Comadre Quinha, seu Abdias está nú lá na rua!

__ Valha-me Deus! Espere aí querida só mais um pouco, já já, volto! Vou pegar seu avô, que anda passeando nu, como se fosse criança!

Agora na velhice esse seu avô me tira o sossego. Apesar disso este tem sido minha distração nesses últimos dias. Vou botar uma roupa nele, deitá-lo em sua rede e já, já retorno pra você, espere com paciência!

Deitando-o em sua rede, foi até a cozinha temperou o feijão e o refogado de costela de bode, escorreu o arroz, foi até o varal e pendurou as roupas da bacia e fez menção de retornar à espreguiçadeira, e passou direto p'ra pia. Quando sua neta que estava ansiosa e concentrada na estória fala:

__ Ah! VÓ, Vó! Como senhora está demorando!

__ Calma, já estou indo! Pronto! Aonde foi que eu parei? A Senhora parou quando chegou em Petrolina!

__ Esse seu ovo, sabia que ele foi o melhor e mais valente vaqueiro dessa região. Ela sempre que viajava quando retornava trazia sempre uma novidade para os filhos, frutas silvestres, flores raras, uma muda de planta. Uma vez ele trouxe uma ovelinha enjeitada que deu para Abdias que lhe pôs o nome de: Sayonara e ela quando cesceu deu belas crias que Abdiinha presenteava a todos seus irmãos.

Pois bem agora sim! Vamos lá! Cadê as meninas para escutarem também o restante da estória, eu não vou repetir!

Continua na parte III...

NATINHO SILVA
Enviado por NATINHO SILVA em 10/11/2012
Reeditado em 11/11/2012
Código do texto: T3978943
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