A vítima
Certo dia, lá pela tardinha de fronte ao cine São Luiz na praça do Ferreira, levei os livros para Mário Gomes autografar. Ele deu uma pausa no cigarro que sugava e sentado inclinou-se para ouvir melhor e logo pegou sua caneta no bolço do paletó branco. De pernas cruzadas e olhar distante disse:
-Seu nome?
-Pô! Mário sou eu...
Voltou a contra capa do livro meio que pensando no que escrever, olhou-me e viu que eu estava acompanhado de uma bela mulher, sorriu com a expressão do rosto apenas, de forma irônica. E lá escreveu: Para o amigo João Neto e a vítima.
Confesso que na hora nem reparei, apenas confirmei se estava escrito, depois de lido o livro e alguns anos depois, decifrei e ri com saudades do poeta que sempre despertou meu interesse pela sua inquietude e escritos crus e mundanos.