Em meio a um café, gritei: “Ei, não me disse o seu nome!”
Abri a porta, entrei, procurei por um local isolado. Porém, só encontrei gente falando alto, garçons que dançavam de um lado ao outro com bandejas apressadas para satisfazer a clientela barulhenta e… a única mesa desocupada bem ao meio do salão. Sentei-me.
Enquanto passava meus olhos na grande lista de opções do cardápio, que variavam entre sucos exóticos e petiscos, ouço o puxar da cadeira à minha frente. Abaixei o cardápio e me deparei com um jovem moço de cabelos bagunçados, calça apertada e camisa arregaçada nos braços com uma mão no encosto da cadeira.
- Posso me sentar com a senhorita? - disse o rapaz, que abriu um largo sorriso branco.
Fiquei chocada com o brilho dos olhos amarelados, ou melhor, castanhos-mel-que-lembravam-me-o-dourado-do-sol, e fiz um sinal de “claro, sente-se” com uma das mãos.
Um garçom todo sem jeito perguntou algo, conversou com o moço e só ouvi “traga-me dois cafés, um para mim e outro para minha linda companhia”. Aquele jeito garoto-praticamente-homem era familiar…
Meu rosto devia esbaldar uma expressão de ponto de interrogação em negrito. Já o jovem à minha frente demonstrava uma suavidade que deixava a ordem dos meus pensamentos abalada.
- Tatiane Gonsales?
Ele sabia meu nome.
- Sim…?
- A senhorita escreve tão bem. Já te falaram isso?
- Ahn… Já, mas… Obrigada!
Quem era aquele rapaz e onde leu meus artigos? Internet? Bebi um gole de meu café, que só reparei estar diante de meu nariz ao perceber que o rapaz já tinha tomado todo o seu.
- Sua doçura é tão intensa quanto suas palavras em um papel. Mas deveria atentar-se mais para todos aqueles por quem dedica o gosto doce de suas experiências.
- Desculpe-me, mas o que está dizendo?
- Sua frieza surgiu com o amadurecimento de sua carne diante do que enxergava como estrada florida. Ou caminho esburacado. Admiro que agora valorize o real sentido da expressividade de um sentimento. Virou mulher, cresceu. Mas se atente: muitos querem tirar seu reinado. Para a princesa virar rainha, é preciso de atenção, dedicação e… força. Sente-se preparada?
- Sim… Acho que sim… Aonde quer chegar com essa conversa? - Perguntei, confusa com o papo que se enroscava naquela situação tão misteriosa e repentina.
- Aonde quero chegar?
O jovem moço levantou-se, andou cerca de três passos, olhou-me fixamente e juntou seus quentes lábios aos meus, beijando-me. Dirigiu-se até o balcão, pegou algum dinheiro na carteira, atirou à bancada, sorriu e quando estava prestes a empurrar a barra da porta e se perder nas ruas, desliguei-me de minha paralisia momentânea e gritei:
- Ei, não me disse o seu nome!
Ele riu, olhou para baixo e disse:
- Sua consciência.