Asas Perdidas.
Asas perdidas.
A velha cabana de madeira estava coberta por neve, assim como tudo em volta do bosque castigado pelo tempo. Observando a neve que caía graciosa do céu cinza, sorriu, parecia até o choro dos anjos... Tão puro... Tão cruel!
Bebericou de seu café quente e nem se importava da caneca ter lhe feito uma peguena queimadura na palma da mão, percisava de algo quente para esquentar seu corpo, sua alma...
Sentiu o vento correndo apressado por ali e assim levando um pouco da neve pura para dentro da cabana, ao menos era uma cor naquele ambiente negro. Apertando o chale de lã em volta dos ombros magros e carregando sua caneca, foi para a varanda, onde uma velha cadeira de balanço rangia. Sentada observou o lugar e sentiu seus lábios cortados tremendo de frio, sorriu.
As árvores agora brancas, dançavam em sincronia, enquanto o vento apressado seguia com a orquestra. Observando a beleza da pintura em que se encontrava, viu ao longe uma borboleta teimosa que se arriscava em voar pelo nevoeiro. Bichinho tolo! Pensou, enquanto incrédula via a borboleta de asas negras fazer um belo voo, era como se escrevesse algo no ar...
Riu jocosa, quando um floco de neve que caía do alto de uma árvore atingiu a borboleta, que com uma asa ferida caiu no chão...
Achou que estava ficando louca, pois podia jurar que ouviu a borboleta praguejando...
Negando com a cabeça cheia dos fios brancos e lisos de um cabelo maltratado, levantou-se da cadeira e apertando ainda mais seu chale contra os ombros, caminhou contra o vento e entre a neve até chegar no local onde a borboleta estava caída, ajoelhou sentindo dor nas artículações, pegou a bela na mão e acariciou-a gentilmente antes de arrancar suas asas... Primeiro a machucada, depois a intacta.
Teve a certeza de estar louca, quando o choro da lagarta em sua mão encheu seus ouvidos. Gargalhou, largando-a no chão. Ficando de pé, soltou as asas que tinha em mãos contra o vento, vendo-as voar sem dificuldades...
– Eram belas demais para você. - disse para lagarta que chorava no chão.
Virou-se de costas para voltar à cabana, mas antes olhou uma última vez para lagarta que chorando pelas asas perdidas, era coberta pela neve traiçoeira. Riu com escárnio.
– Também arrancaram minhas asas no passado... - disse vaga - Faça como eu... Lute se quiser viver...
Andando majestosa sobre a neve, voltou para a varanda, onde sentada novamente na cadeira viu as asas se perderem por ali, enquanto voavam para longe. Bebeu seu café frio e sentindo o vento mais agitado, recostou na cadeira sentindo frio. Sorriu...
Havia chegado até ali... Mesmo sem suas asas.