Paneb e a Covardia


Ele quis voltar assim que passou pela porta.
O blues arrastado se misturava no bar com cores de sujeira e fumaça.
Quase sem vontade, puxou a cadeira e encarou os olhos que o avaliavam.
Ela se mostrou inquieta e ele pensou em ir embora mais uma vez.
Por dentro, era uma briga só. Misto de ansiedade e fome.
Talvez não devesse lutar. Para quê?
Não era o primeiro e nem seria o último, apenas mais um.
Ela sabia. Ele também.
O suspiro dela era de impaciência e ele soube o que ela pensava.
Era um fracasso.
Um zé ninguém que tentava manter a pose e o sorriso amarelo.
Sentiu a bile subindo pela garganta e a vergonha da própria covardia.
Tinha que decidir.
Todos os dias
Todas as noites.
Não viera até ali para fazer papel de trouxa.
Ela olhou um cara loiro na mesa ao lado.
O próximo, com certeza.
O cara sorriu de volta e ele se viu morrendo.
Fraco.
Insignificante.
Covarde.
Era um perdedor recorrente de si mesmo.
Respirou e decidiu.
Tinha que tomar uma atitude.
Perguntou o preço.
Ela sorriu pela primeira vez na noite.
Ele quase acreditou no sorriso.
Era assim com todos. Uma profissional.
O preço veio sem nenhuma reação.
Ele pagou. Sem questionar.
Um minuto depois ele saía do bar.
Na mão, a dose do dia estava garantida.

 
Edeni Mendes da Rocha
Enviado por Edeni Mendes da Rocha em 08/08/2012
Código do texto: T3820339
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