Olhei para aquela frondosa árvore que se esgueirava rente ao muro  da divisa entre o escritório da construtora onde trabalhava e uma casa imponente edificada na Rua Vitorino Carmilo, na Barra Funda. 

O sol inundava com sua luz as clareiras das folhagens e enormes jabuticabas  que forravam os troncos e galhadas daquela frutífera árvore brilhavam dando um aspecto imponente àquelas bolas negro azuladas.

Num átimo meu sentido contemplativo passou para o gustativo e minha boca insalivou e aquele inconfundível estouro da jabuticaba  e  aquele maravilhoso gosto que chega a alegrar a alma, tomou conta do meu imaginário.

Pensei de forma absolutória que aquelas jabuticabas estavam disponíveis e não seria delituosa a subtração de algumas delas que seguramente iriam se perder. A mente humana é criativa e engenhosa e rapidamente entra em ação.  Fui até um almoxarifado e consegui um longo e grosso cano de PVC, tapei a extremidade inferior do cano com a palma da mão esquerda e com a direita segurei o cano e passei a colocar a extremidade superior rente às enormes jabuticabas que desciam em velocidade espantosa. Comecei a degustar as jabuticabas com tanta avidez e nem vi que existia um expectador da minha traquinagem de 19 anos.

Um velhinho de óculos, dono da casa e da jabuticabeira da qual eu me servia estava olhando e eu “perdi o rebolado” naquele momento me preparei para ser admoestado, xingado, esculachado, etc.   Mas o que veio foi algo muito bom. O bondoso velhinho  me convidou para que fosse apanhar jabuticaba em seu quintal, pois todos os anos as frutas se perdiam, pois ali morava ele e sua esposa, ambos com idade avançada e não conseguiam consumir e muito menos apanhar todas as jabuticabas.

Fui lá, apanhei centenas de jabuticabas grandes, casca fina, dulcíssimas, uma maravilha!  Deixei uma razoável quantidade para os dois anciãos que ainda me agradeceram. Sempre que vejo  jabuticaba, me recordo  saudoso desse fato ocorrido há quarenta anos.