Minha vida

Historia de minha vida

Maeli nery, tenho 48 anos, nasci em Belo horizonte, em 14/07/ 1962.Tenho orgulho, dizer, “Nasci em uma favela de Belo Horizonte, Barragem Santa Lúcia.

Meu pai, preocupado com a violência que começava a tomar os morros, comprou um lote no bairro Jatobá, na Rua Almeida Garret, para onde mudamos, em 26 de maio de 1968, casei aos 16 anos e mudei para o bairro Regina.

Vizinhos de rua eram poucos, Sr Jose Teodoro, Sr Abel, seu genro Mário, Sr Sebastião cesáreo e Sr Bento, Formavam junto com minha família os primeiros moradores da nossa rua.

A atual Praça Minerva, era feita de curral para as cabeças de gados do Sr Antonio Besouro e era ali que ia sempre eu e minha irmã Cleusa, buscarmos *esterco, para estercar a horta que tínhamos no fundo do quintal, e era na venda do Sr Antonio besouro que buscávamos querosene, para abastecer as * lamparinas que iluminava a casa, uma vez que não tínhamos luz elétrica.

Assim como a luz elétrica, a água, também era um dilema, não tínhamos água encanada,

Então descíamos o morro e buscávamos na casa do Sr Geraldo Idelfonso, na Rua Eliete buscávamos em baldes, feitos com latas de tintas, e eram carregadas na cabeça, onde colocávamos uma *rodilha para não se machucar com o peso do balde com água.

Meu irmão Berquiour, não aceitava colocar a rodilha, como conseqüência do peso, e devida aos quatro anos seguidos sem água em casa, teve uma peladeira no alto da cabeça, onde nunca mais nasceu cabelo.

Meu pai, SR Joaquin Nery, ainda vivo, hoje com oitenta e quatro anos, era o que podemos chamar de multifuncional, ele era pedreiro, marceneiro, e cisterneiro. Eu e Cleusa sempre o ajudávamos a furar as cisternas, quando chegava a um lajedo de pedra, muito duro, classificada de pedra de TERCEIRA, era hora de entupir tudo e começar a furar outra, e com sacrifício depois de quatro cisternas furadas, tivemos sorte de encontrar água em uma com vinte e três metros abaixo do chão, uma vez ao entupir uma cisterna, escorreguei e cai dentro dela, como eu era bem levada, subi pelas laterais enquanto mamãe em prantos preparava um *sáril, para tira-me de la. Lembro-me que uma vez papai, passou mal, e desmaiou em uma das cisternas, por causa de um determinado gás, encontrado no fundo dela, isso não era muito comum, foi muito difícil conseguir tira. lo

A vida era muito difícil, mas era divertida também, sempre íamos à igreja e saiamos do bairro Regina para a Lagoa seca que é o Durval de Barros de hoje.

Brincávamos de pega pega sem perigo de sermos estupradas ou mortas, esconde esconde no mato, era maravilhoso. Eu meio sapeca, brincava de esconde, esconde e escondia-me sempre com algum moleque atras das moitas, aproveitava e dava uns beijinhos.

Recordo de um tempo que tinha medo de sair de casa, não pelas causas de hoje “violência”, mas pelos búfalos que saiam das fazendas de Contagem das Aboboras e seguia para Mario Campos e Betim, a gente via ao longe a poeira subir pelas estradas de terra e podia correr, pois eram tantos búfalos que não se podia contar. Quando eles aproximavam de onde hoje é a igreja nossa Senhora das Graças, no Regina, todos que estavam fora de casa corriam, por medo de serem mortos pela manada de búfalos.

Estudei na escola estadual Carmo Giffoni, no bairro Jatobá, quando ainda era apenas 1 pavimentos térreos. 1968 a 1971 cantávamos todos os dias o Hino do Brasil, antes de entrar na sala de aula.

Em 1972, os sábados e domingos eram muito movimentados na minha rua, depois que a esposa do Sr Jose Teodoro, doou um lote, em paga de uma promessa que fizera para o filho Tadeu, que segundo os médicos, nasceria morto, para construir a igreja São Judas Tadeu, o filho recebera o nome do santo e hoje reside em Brumadinho.

Toda a tarde do fim semana tinha barraquinhas, e podíamos, ficar olhando de longe os garotos, e se um deles se aproximava, papai vinha e punha pra correr, dizendo que não tinha filha com idade pra namorar, era divertido demais.

Dos amigos daquela Época sobraram poucos, mas as recordações são tantas...

Outro divertimento legal, era sair de casa todos os dias à tardinha, para ver o trem de ferro passar, dávamos tchau para os passageiros do trem e eles revidavam com alegria,

Aquilo era tão romântico, e tão compensador.

O perigo que nos rondava naquela época era apenas os búfalos, as vaquinhas do Sr Antonio Besouro e alguns cavalos bravos que corria atrás da gente, como o Arizona, do Sr Ivair, Proprietário do deposito de areia.

Ver meu bairro crescer como cresceu, foi maravilhoso, mas deixar na saudade, tempos como aquele, deixa um vazio muito grande, um tempo onde plantávamos uma hortinha, criávamos porcos e galinha, dormíamos de porta aberta.

Aquilo sim era um tempo perdido no tempo.

A selva de pedra tomou conta do riacho que tínhamos na Av. Perpetuas, onde pegávamos peixinhos para colocar em latinhas que era nosso aquário da época, a violência nos roubou o direito as brincadeiras inocentes das tardes de verão, o aquecedor elétrico roubou nossas quentes noites de inverno ao lado do braseiro no chão da sala.

E tristeza maior não existe que ficar sem as historia que minha saudosa *Daí nos contava de seu povo cigano,essa felicidade de família reuniada. foi roubados pelos mais modernos computadores e televisores que hoje ocupa a maioria das casas do meu bairro.

*Esterco (excremento, ou, fezes dos bois)

*Lamparinas (pequeno vasilhame de vidro, com querosene e pavio de algodão, onde se colocava fogo para iluminar as casas sem luzes elétricas)

*Rodilhas (pedaço de tecido enrolado em caracol, que era colocado como proteção para se colocar o balde de água na cabeça)

*saril (manivela feita de madeira com corda que enrola, para puxar balde com água de dentro das cisternas)

*Daí (significa mãe, em romanês ,idioma usado ate os dias de hoje pela maioria dos povos ciganos.