A pilastra que estava na frente da poesia
O metrô corria cada vez mais rápido, como que se fugisse das palavras apressadas dos dois. Duas horas de conversa jamais são suficientes quando se tenta tocar as unhas dos dedos das mãos nos pés da realidade.
Estou cada vez mais convencido de que essa troca incessante de palavras mal-distribuídas por entre gavetas de silêncio que nossa sociedade chama de 'conversa' não é mais do que um constante cuspe de partículas de realidade. Tentamos descobrir o outro. O outro tenta se revelar. Nenhum dos dois sabe como, mas todos acham que isso é possível.
Falta apenas uma única estação. As palavras se atropelam em uma tentativa última de tentarem fazer sentido. Se o leitor quer uma imagem, pense em um quebra-cabeça infinito que tem a arrogância - ou ingenuidade, sinônimos arrogantes e ingênuos demais para se admitirem - de se imaginar completo antes de um abrir e fechar de portas. Ele fala em filmes, brisas e chineses como se estivessem interligados. Ela responde com sorrisos, valores morais e olhares de lado como se fossem coisas completamente diferentes.
A porta do metrô se abre ao som da frustração de palavras que ficaram para trás. Se deslumbres de real foram vistos, serão esquecidos pelas amnésias impostas pela grande bolsa de besteiras que é o mundo que nos obriga a lembrar de métodos para o uso de maçanetas e nos faz esquecer dos métodos de fabricação de momentos.
Ele salta de um lado para o outro da porta do metrô como se precisasse de passaporte. A porta se fecha e prende consigo meio suspiro que ficou por ali, mais inspirado do que expirado. Ele dá alguns passos adiante antes de olhar para trás querendo copiar a poesia daqueles olhares de despedida que ele deve ter visto em algum filme óbvio. Seus olhos apressados, porém, acabam trombando em uma pilastra de metal que estava ali distraída. O choque poderia ter derrubado a pilastra, e com ela, todo o chão do universo. Ao invés disso, caiu a poesia, sem fazer barulho suficiente para que alguém se importasse.
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