Esfaqueou e foi pra Rondônia
Era um dia comum e pacato para o jovem Lúcio, exceto pelo fato do dia ser uma noite fria sentado atrás de um balcão de um hospital cinco estrelas. Por causa desta quantidade de astros, poucos paciêntes iam pra lá e só quem tinha carteirinha era autorizado a ter um atendimento médico rápido, eficiênte e de qualidade.
Lúcio tinha vários amigos que, perambulando pela noite, passavam na porta do hospital para conversar e fazer um pouco de compania para este jovem solitário que só convivia com doentes, enfermeiras e bêbados que vagavam pelas ruas. A piadinha mais comum feita por eles era chegar no hospital fingindo uma convulsão ou um coma alcólico e raras vezes uma péssima atuação de uma perna quebrada.
Porém certo dia, um colega chamado Jamiel chegou e com uma voz calma disse:
- Ou, tem um médico ae? Chama ele pra mim porque eu tomei uma facada.
Lúcio agiu normamelmente como sempre fazia com as piadinhas dos amigos e já foi dizendo:
- Você tem convênio ou plano de saúde? Se não tiver some daqui.
- È sério soh - e Jamiel pressionava suas duas mãos contra a sua coxa - aquela louca me deu uma facada!
Lúcio se levantou para ver melhor através do balcão e quando viu a perna do amigo só enxergou aquele monte de sangue vermelho e grosso escorrendo da sua bermuda até seu tenis. Rapidamente, e sem questionar nada, o recepcionista chamou o médico e enviou o seu amigo para o ambulatório. Nisso chegam dois amigos de Jamiel, Paulo e Alen, já chorando de rir do caso.
Eles explicaram que estavam na festa de despedida de uma amiga chamada Matília, pois a mesma estava se mudando para Rondônia com a famíia e que em uma brincadeira de mal gosto, Jamiel acidentalmente pos a mão na bunda de Matília, e esta, em reação espontânea, usou a faca de serrinha que ela manuseava para cortar panqueca para furar a coxa do seu amigo.
Minutos depois chega Matília chorando no hospital, pedindo desculpas e desorientada por ser uma quase assassina. Ela pediu o telefone emprestado para Lúcio e ligou para o seu pai. Quando o pai de Matília atendeu, a garota disse, ao som de vários gaguejos:
- Pai, eu dei uma facada no Jammiel!
Lúcio, Paulo e Alen perderam as forças e cairam no chão de tanto rir. O desespero da garota era tão grande que ela nem se preocupou em dar a notícia de forma suave. Ponto vai, ponto vem, enquanto o médico costurava o buraco na coxa de Jamiel, Lúcio teve que cumprir com suas obrigações e acionar a polícia para fazer um boletim de ocorrência sobre o caso.
Enquanto a polícia não chegava, Jamiel começou a ficar cansado devido à perca de sangue e estava sem forças para mexer qualquer um de seus músculos. Seus amigos aproveitaram a chance para fazer o que os verdadeiros companheiros sabem fazer de melhor: zoar. Seus trajes tiveram que ir para o lixo devido a grande quantidade de sangue e apenas uma toalha cobria as suas vergonhas. Seus amigos começaram a puxá-la ameaçando expô-lo como veio ao mundo para toda ala hospitalar. O garoto não tinha energias nem uma faca pra se defender e só restava implorar por sua dignidade.
Pouco depois os policiais chegaram e começaram a interrogar sobre o caso. Eles perguntaram se Jamiel queria abrir queixa por agressão, mas por outro lado Matília abriria por abuso sexual, então os dois amigos decidiram deixar quieto e dividiram a conta hospitalar, da mesma forma que dividiram a conta da panqueca. No meio do caos pra finalizar a noite com chave de ouro o policial pergunta:
- E onde está a arma do crime?
- Tem alguém comendo panqueca com ela nesse exato momento senhor.
Matília foi pra Rondonia e deixou marcada em Jamiel uma lembrança que sempre o fará se lembrar desta amiga tão querida.