O SINAL

O Sinal

Eu costumava pegar o trem sempre na estação de realengo para estudar na Escola Abrahão Jabour, no bairro jabour aqui no rio de janeiro. Eu e a turma gostávamos àquela época de andarmos pendurados como "pingentes" do lado de fora levando um ventinho nos longos cabelos.Aquilo era legal, uma tremenda aventura e apesar do medo, existia muita adrenalina.Mas, vira e mexe eu ficava sabendo

de alguém, não da nossa turma, que tinha caído e morrido ou ficado sem pernas. Na verdade era ( e ainda é ) uma aventura de louco e de gente sem juízo algum e eu parecia ser um deles.A grande maioria que caia morria mas a gente quando é muito jovem e rebelde pensa que é super herói.Um belo dia eu peguei o trem e apenas encostei na porta.Naquela época os trens se locomoviam mesmo com as portas abertas, as vezes meia banda fechada, meia aberta,( e hoje em dia ainda é assim) mas esta porta onde eu havia encostado estava toda fechadinha e eu ia lendo um livro e estava bem compenetrado na bela leitura.Quando o trem chegou em bangu a porta abriu e levou consigo inesperadamente a minha querida mãozinha junto. .Então entre a parede do trem e a porta, naquela estreita fresta ficou preso e espremido o meu lindo polegar.Eu não quiz fazer nenhum alarde, fiquei ali segurando a dor e o latejamento do meu dedão.O pior é que o trem resolveu demorar um pouquinho mais naquela estação, justamente naquele momento - eu era um iluminado ( e ainda sou ).Fiz a primeira prece para o maquinista e nada, pra mãe do maquinista e nada, e as pessoas que me olhavam nem desconfiavam o que estava acontecendo.O dedão começou a ficar meio arrocheado,

eu comecei a xingar baixinho os primeiros palavrões e a sentir tremedeiras nas pernas, depois uma lágrima de dor e uma sutil dorzinha de cabeça surgiu.Daqui a pouco o trem deu o primeiro solavanco.O segundo.E finalmente no terceiro a porta se fechou e o meu dedo saiu são e salvo.Aquela viagem para mim significou o trajeto mais longo que eu fizera aos dezessete anos enfrentando um inesquecível e punjante latejamento.

Daquele dia em diante, nunca mais andei pendurado como um "pingente" indo na onda de muitos colegas arriscando a minha vida e nem quiz mais encostar minhas mãos na porta de um trem colocando em risco a minha segurança.Depois fiquei sabendo que o trem ficara parado devido ao sinal.Aquele sinal que também sinalizou a minha grande decisão e a minha vitória.

Carlinhos Real
Enviado por Carlinhos Real em 07/05/2012
Reeditado em 06/02/2013
Código do texto: T3655299
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