Mea culpa
Aos 24 anos disse o "SIM" perante todas as testemunhas, convidados e olhando para os olhos de minha amada, que marejavam. Sentia por ela um amor sensual, puro e dedicado. Poucos meses antes do nosso casamento, sua mãe falecera subitamente. Minha ternura e dever aumentaram. Filha de pais separados, desde a adolescência não sabia do paradeiro do pai.
O quarto ano de engenharia era a minha disputa. Preferi o casamento antes da formatura, pois eu acreditava que o enlace era a união nossas escovas de dentes, a divisão problemas e sexo seguro a todo momento. Eu deveria voltar para os braços da minha mulher ou fixar meus olhos nas pranchetas da sala de projetos?
Vez ou outra, eu optava pela primeira opção, e quando me enfastie dela, a universidade e a vida paralela passaram a ser mais interessantes. Madrugadas eu varava nos bares, ou em braços avulsos, quando não desconhecidos. “Como você se chama, mesmo?” era a pergunta que eu escutava, quando a conta do motel estava sendo paga.
Assim, levei meu tempo de boêmio, de estudante e de homem casado. Sempre fui profissional, na hora de fazer o errado. Filhos nasceram, abri meu escritório, sustentava muito bem a mulher, os filhos e a mim mesmo. Mantive os braços avulsos, as mulheres sem nome e a conta do motel paga.
“Exemplo de marido”, diziam as tias de minha esposa. Ela sorria, balançava a cabeça e concordava sempre. Sem opção para discordar, jamais soube que entre mim e a monogamia o afastamento era a lei.
“Meu amigo Álvaro, não existem mulheres difíceis, mas sim mulheres mal amadas”, diziam-me os colegas de trabalho, e os mais velhos no assunto. Por que aquela frase me perturbava tanto? O que eles estavam insinuando? Desde quando Lucíola se encaixaria nesse tipo de mulher? Nada lhe faltava. Era a mesma desde o dia do nosso casamento.
Tolices que incomodavam, mas que preferi não dar força àquele tormento.
Domingos pela manhã eram sagrados para o futebol com meu filho mais velho. Saíamos cedinho e ao voltar para casa, a macarronada ao sugo estava à mesa.
Sorrisos marotos e dissimulados surgiram nos lábios de Lucíola, que passou a conversar sozinha, pensando que ninguém observava a cena.
“Mamãe tá esquisitona, né?” Comentava minha filha, ao vê-la cantarolando sem motivos aparentes. Observei-a por alguns dias, mas nada delatava suas atitudes. Despreocupei-me por completo, até que a vi sair da ducha, com uma pequenina toalha nas mãos, os cabelos respingando pelo chão e no corpo algumas marcas de sucção, mostrando muitas horas de intimidade.
“Prefiro sair com a roupa do corpo e deixar as crianças contigo, Álvaro”.
Aquela frase, ao atingir meus tímpanos, causou-me repulsa, ódio e o lema:
“Deixe que ela leve a culpa”.